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O futuro de Harry na mídia nos sites de fãs

Nossa colunista Sheila Vieira, em breve pesquisa às referências online à série de J.K. Rowling, aborda a existência dos Potter sites com consciência e tato, falando dos motivos óbvios pelos quais o sucesso do bruxinho na internet não é mais o mesmo. À medida que analisa a crescente ausência da saga online, Sheila nos mostra que ainda restam campos favoráveis às discussões potterianas no mundo, sendo estes muito mais úteis e promissores do que podemos imaginar. Leia a coluna completa em Notícia Completa e não deixe de comentar!

Por Sheila Vieira

Conheci o Potterish em 2002. Era uma recém-convertida à “religião” Harry Potter, e buscava informações, por mais banais que fossem, na TV e na internet. As principais fontes eram os grandes portais de notícias e os endereços específicos. O Ish me pareceu o mais completo, e com a maior atualização de notas. A cada dia havia um novo trailer, uma foto em alta resolução, um set report, etc. O portal do UOL tinha uma seção exclusiva sobre o bruxinho, com cerca de três notas por dia (infelizmente não tenho dados concretos, e será preciso confiar em minha memória). O AOL, que na época era associado à Warner, sempre fornecia conteúdos exclusivos e promovia os filmes. Lembro-me de um programa da apresentadora Sônia Abrão, no período de lançamento de “Câmara Secreta”, em que um clipe de dez minutos de divulgação do filme foi reprisado durante uma hora. Em toda a mídia, víamos o jovem rosto de Daniel Radcliffe.

Há uma razão para a maioria dos verbos que usei no último parágrafo estar no pretérito imperfeito. A overdose potteriana na mídia é coisa do passado. Em uma simples busca que fiz nos portais do UOL e do G1, a expressão Harry Potter aparece no máximo uma vez por mês (exceto na época de lançamento dos filmes). Especiais de TV relevantes, somente o tradicional da ABC. Nas matérias que antecipam os lançamentos do cinema em 2009, “Enigma do Príncipe” tem o mesmo destaque de filmes com expectativa de público bem menor. Em reportagem recente no jornal Folha de S. Paulo, Harry Potter foi citado como um “fenômeno de virada do século”.

A razão principal disso, obviamente, é o fim da série literária, que nos “aquecia” para o lançamento no cinema e vice-versa. Mas também contribui para isso a diminuição de lançamentos dos chamados “arrasa-quarteirões”. No começo da década, tivemos as trilogias “Matrix”, “Senhor dos Anéis”, “Homem-Aranha” e “Piratas do Caribe”, que aparentemente não terão continuação. Os únicos filmes que estreiam já com bilheterias garantidas atualmente são os sombrios James Bond e Batman. Quando esses filmes eram lançados em sequência, um ajudava na divulgação do outro.

Diante desse cenário, o único reduto de informação dos fiéis a Harry são sites como o Potterish. No entanto, quando a própria Warner segura informações sobre os filmes e não há mais especulação sobre os rumos da história, não há como um site de fãs se dedicar totalmente à divulgação de notícias. Até porque nós crescemos, e não dedicamos a mesma quantidade de tempo a Harry do que antes. A saída parece ser a aposta nas colunas, ou seja, na reflexão sobre a história como um todo e o que ela nos deixou de ensinamento para nossas vidas.

As fanfics exigem um bom tempo para serem elaboradas, e não estão mais tão em alta entre nós. Além disso, a maioria dos fãs se demonstrou satisfeita com os desfechos elaborados por J.K. Rowling, e a graça das fanfics é justamente recriar os rumos das histórias que não nos agradaram tanto. Talvez por isso, os sites devem apostar numa abordagem mais objetiva da série. Atualmente, o nosso senso crítico em relação aos filmes, e até aos nossos sagrados livros, tem aumentado. E a nossa experiência de vida começa a mostrar que os conflitos vividos precocemente por Harry serão enfrentados por nós, mais cedo ou mais tarde. Além disso, nossa bagagem cultural é maior, e podemos estabelecer comparações com outras obras literárias e cinematográficas.

Mas o notável de tudo isso é que este campo de discussões mais específicas que se abriu entre os fãs da série na internet pode ser o início de uma nova visão da mídia sobre o “fenômeno de virada de século”. Nas escolas de comunicação e letras, os fãs de Harry são maioria nas classes, muitos deles usando a série como objeto de estudo nos trabalhos do curso. O espaço que temos aqui é uma expressão dessa geração que encara a série como um importante capítulo na história não só do mercado editorial, mas também da própria literatura. Isso prova que, apesar de não ter mais o mesmo destaque nos portais de notícias e na TV, podemos continuar a cultuar nosso bruxinho através de nossa troca de ideias nos sites de fãs, produzindo opinião e boas análises sobre Harry Potter.

Como todo texto breve e opinativo, este artigo trata-se do começo de uma discussão, que eu gostaria que fosse alimentada por vocês nos comentários, concordando e discordando. Feliz 2009.

Sheila Vieira é mais uma notável pottermaníaca com consciência em nossa equipe.