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Conservadores, Progressistas e Moderados: divergências de opiniões sobre os filmes de Harry Potter

O colunista João Victor escreveu uma coluna bastante interessante sobre o tema:
Conservadores, Progressistas e Moderados: divergências de opiniões sobre os filmes de Harry Potter.

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Conservadores, Progressistas e Moderados: divergências de opiniões sobre os filmes de Harry Potter
Por João Victor

Divergências de opiniões são naturais entre os seres humanos. Todos somos diferentes e agrada-nos pontos que podem não agradar aos outros. Isso em qualquer campo do conhecimento humano, seja na arte, religião ou política. Nem sempre, é bem verdade, existe o respeito à diferença, e por isso a história da humanidade está repleta de guerras e disputas de poder. Mas isso é um outro assunto.

Bom, para analisar o que chamarei de ‘pólos de opiniões’, vamos compará-las com as chamadas correntes política-filosóficas que fizeram parte da história mundial: os Conservadores, Progressistas e os Moderados. Em toda sociedade, desde as civilizações antigas, pode-se encontrar uma divisão de pensamentos como essa. Em geral, os Conservadores são aqueles que prezam pela defesa da “lei e da ordem” e dos valores tradicionais, religiosos e familiares, quase sempre adotando uma postura e visão militaristas. Já os Progressistas possuem uma visão mais radical geralmente marcada pela luta de uma sociedade igualitária, liberdade de expressão e de imprensa, travando sempre uma batalha a favor dos oprimidos e dos trabalhadores. Quem fica ao meio dessas correntes, e concorda em parte com ambas as opiniões, podem ser chamados de Moderados.

Pois bem. Em diversas matérias e reportagens que li, em conversas com amigos-fãs e até mesmo em postagens em forums e em sites de relacionamentos (orkut), vi que existia nas opiniões colocadas, fãs de todos os tipos, Conservadores, Progressistas e Moderados. Fazendo uma alusão das correntes políticas-filosóficas, vamos conhecer o perfil dos fãs dos filmes de Harry Potter. Você certamente se reconhecerá dentro de algum desses pólos.

Os Conservadores são aqueles que se rendem ao fascínio das cores e da magia que envolve o espectador numa perfumada história infantil narrada por Chris Columbus. Nos penalisamos com o tratamento rude pelo qual o pequenino Harry, que conhecemos recém-nascido, é submetido. Uma família que mesmo muito ruim é caricata, com olhos, caras e bocas, que muitas vezes nos levam ao riso. Conhecemos a magia do Beco Diagonal. Que maravilha se render a uma tarde nessa ruela colorida com cheiro de erva e incenso (porque certamente ela nos desperta essas sensações). E Hogwarts? Um castelo de quadros engraçados, uniformes coloridos e crianças em sua quase totalidade muito bem comportadas. Bruxos e bruxas emblemáticos. Um Diretor que nos lembra as histórias do Mago Merlim, uma Professora de chapéu muito pontudo, como aquelas bruxinhas de desenho animado.

Puxa que agradável é ver um jogo de Quadribol sob um céu azul e forrado por uma manta de grama verde na companhia de um grandalhão bonachão que vigia as fronteiras da Escola. O que mais pode assustar nas crianças é um professor de negro e muito pálido, um cão de 3 cabeças, uma partida de xadrez e uma criatura encapuzada – devoradora de unicórnios – e que depois aparece na cabeça de um professor (não da do professor de preto). No segundo filme, também de Columbus, encontramos a mesma mão que mexeu a primeira massa. E o tom é o mesmo. Dessa vez um pouco mais assustador porque vemos sangue e uma cobra gigante!

Oras, isso já é demais para os ansiosos fãs Progressistas. “Queremos mudança!”, e Alfonso Cuarón chegou, e abocanhou uma grande parte dos Conservadores que se renderam ao lado sombrio, místico e gélido tão aguardado por milhões de fãs do mundo inteiro. Realmente os números, tão lucrativos, foram a prova da mudança. Harry finalmente sugara a atenção dos adultos, assim como os terríveis dementadores quase sugaram sua alma. Aquelas criaturas pavorosas, que vigiavam Azkaban, estavam na verdade atrás de um cruel assassino que fugira inexplicavelmente da tão bem protegida prisão dos bruxos para liquidar Potter. O menino que por sua vez teve seu primeiro acesso de raiva. Transformou a irmã de seu tio num balão e fugiu de casa. Um adolescente. E por isso mesmo, vemos os primeiros indícios de uma paquera no ar. E Cuarón começou a explorar a idade dos personagens (e atores) com muita propriedade.

MAS NEM TUDO SÃO FLORES. Fãs raivosos, revoltados, urravam “Ele destruiu tudo!”. Os Cuaronistas não foram unanimidade. Para os Conservadores Cuarón assassinou pessoalmente Dumbledore, ao colocar o inquieto ator Michael Gambon no papel. Ele pessoalmente derrubou a encantadora cabana de Hagrid e a jogou atrás de um morro feio e sem graça. Foi ele quem tirou a cor, ele que fez os uniformes desbotassem e ficassem sujos e amassados…

Mas, discussões afiadas, pólos opostos separados como água e vinho e surge uma classe que acabou emergindo no meio dessa guerra de opiniões. Os Moderados e seu mentor Mike Newell, o primeiro britânico a colocar suas mãos na direção de um Harry Potter. Newell teve a classe que se pode esperar de um lorde inglês. Respeitou as mudanças de seu antecessor, mas deu uma olhadinha um pouco mais pra trás e viu que os ânimos exaltados precisavam de uma trégua. E para isso substituiu a magia infantil pelo infalível uso do humor. Ele presenteou os personagens dando a eles uma carga extra de personalidade. Vemos os Gêmeos Weasley não mais como os figurativos irmãos de Rony, e muito menos este como “o patético amigo de Harry Potter”, como ele mesmo se intitula. Eles estão engraçados.

Quem continuou a sentir falta da magia de Columbus se deliciou com o Baile de Inverno, prateado e com muita música, seja ela rock’n roll ou uma pop music bem romântica, que empolga Hagrid e sua mão boba pra cima de Maxime. Aliás não só os grandahões caem nas graças do cupido, Harry, Hermione e Rony (com seu ciúmes incontrolável), mostram que eles realmente cresceram. Além disso existe o thriller que é o mote principal do quarto filme. Muitos personagens suspeitos e um deles é o grande responsável por uma morte e pelo tão temido retorno de Voldemort, cuja caracterização está reconhecidamente assustadora. Ah, não esquecendo que os efeitos especiais foram muito bem realizados.

Newell foi o responsável por um fenômeno. Conseguiu buscar adeptos das duas correntes, e acabou quebrando todos os recordes. Chegou a 14ª posição dos filmes mais rentáveis da história do cinema com seus mais de 800 milhões arrecadados mundialmente. Além disso, na maioria dos sites que produziram suas enquetes, foi obtido o resultado de que “O Cálice de Fogo” foi o melhor filme dos quatro até então produzidos.

Mas observem bem, existem também aqueles fãs que detestam TODOS os quatro filmes, e que acham ridícula qualquer adaptação já feita dos livros de Rowling.

Acredito que todos os quatro filmes tenham seus acertos e erros. Eu também tenho um preferido e também me encaixo numa dessas “correntes”. Gosto é gosto e não vamos discutir. Vamos esperar pra ver “A Ordem da Fênix” e ver qual segmento será contemplado. Mas já podemos tirar uma conclusão prévia sobre isso. Certamente os Conservadores não serão novamente contemplados, pois sabemos a carga de coisas sombrias que Harry ainda enfrentará no seu quinto ano em Hogwarts.