Filmes e peças ︎◆ O Enigma do Príncipe

Especial Efeitos Visuais – Parte 1: fogo, água e cristal em EdP

Muitos fãs de Harry Potter são completamente fascinados pelo cinema, e até mesmo aqueles não tão apaixonados assim pela sétima arte enchem os olhos com os efeitos visuais apresentados nas produções cinematográficas da série Potter.A primeira quinzena desse mês foi uma loucura, com tanto material saindo que simplesmente se tornava impraticável traduzir tudo a tempo. Por isso, deixamos para iniciar agora a divulgação de três excelentes matérias abordando os efeitos criados para o filme Harry Potter e o Enigma do Príncipe.

A de hoje foi divulgada pela Post Magazine e fala sobre a complexidade da cena final de Harry e Dumbledore na caverna.

A sequência clímax de Harry Potter e o Enigma do Príncipe é uma das mais (se não a mais) complexa composição de atores, telas verdes, personagens em Computação Gráfica [CG], ambientes, simulação de fenômenos naturais e simulação de fenômenos de fantasia que eu encontrei em 21 anos escrevendo ao Post.

É explicado como foi feita a criação do fogo conjurado por Dumbledore, o cuidado para escolher a aparência e movimentação dos Inferi, e a complexidade apresentada ao trabalhar com fogo e água ao mesmo tempo em um set que apresenta reflexão e refração devido aos cristais da caverna.

Tivemos fogo e água ao mesmo tempo, e os dois interagindo. E tínhamos algumas bolhas de escape, com o fogo indo para baixo da água. O lago começa a ferver. Tivemos de criar a aparência da água fervendo e os Inferi seriam refratados através das bolhas. O fogo também penetra através da superfície da água, gerando muitas bolhas.

Confiram a tradução na íntegra em notícia completa!

HARRY POTTER E O ENIGMA DO PRÍNCIPE
Efeitos Visuais

Post Magazine ~ Ken McGorry
Tradução: Fernanda Midori, Júnior Colares, Ricardo Olissil e Fabianne de Freitas

São Francisco – A seqüência clímax de Harry Potter e o Enigma do Príncipe é uma das mais (se não a mais) complexa composição de atores, telas verdes, personagens em Computação Gráfica [CG], ambientes, simulação de fenômenos naturais e simulação de fenômenos de fantasia que eu encontrei em 21 anos escrevendo ao Post.

O novo filme da Warner Bros., dirigido por David Yates, é o sexto e penúltimo fascículo da série baseada no fantástico romance de J.K. Rowling.

Ainda há um sétimo livro para ser filmado, por isso presumimos que o bruxo iniciante precisará sobreviver à implacável ameaça mortal do clímax de HP6.

É bastante fácil colocar o clímax de HP6 no papel, – Rowling fez isso – mas como, exatamente, você faria isso no filme? Harry e o bruxo/mentor Dumbledore entram em uma caverna no rastro do ultra-vilão, Voldemort. Eles vão a uma caverna cristalina onde milhares de humanóides morto-vivos – antigas vítimas de Voldemort que agora são seus servos – emergem, de repente, das águas agarrando Harry e o arrastando para a sombria profundeza.

Dumbledore reage com um novo truque. No livro, ele ataca os agressores com grandiosos arcos de chama controlados por ele, criando um vórtice de fogo. Dumbledore até lança bolas de fogo submarinas no inimigo enquanto eles recuam sob a água. Por isso, para esta sequência de efeitos, Yates chamou a ILM.

A máquina de fogo

A culminante seqüência de aproximadamente sete minutos, o intenso clímax é de apenas oito cenas. Apesar de sua brevidade, disse Tim Alexander, supervisor de efeitos visuais da ILM no filme, as cenas de fogo “tomaram uma grande parte de nosso tempo e energia. Fogo é bem difícil e nós não tínhamos uma solução sólida para isso”. Mesmo assim, a decisão foi abandonar a história de sucesso da ILM em filmagem com efeitos pirotécnicos e ir com todas as chamas de computação gráfica.

A tentativa da ILM foi o método “força brutal” padrão: simulando partículas – “muitas e muitas delas” – em um volume de 3D para tentar aproximar-se da visão de fogo. No entanto, Alexander diz, “Você tem que ter uma grande densidade de partículas para criar o detalhe que você precisa no fogo que muito rapidamente se torna difícil e devagar”.

Ele acabou usando uma nova abordagem desenvolvida por Chris Horvath da ILM. Alexander deu crédito a ele e o resultado de efeito de fogo é a maior conquista da ILM no filme. “Nós ainda fizemos a simulação da partícula, mas é uma contagem bem baixa de partícula, como combustível voando pelo ar, só para nos dizer onde irá queimar”. A equipe colocou esse pequeno número de partículas dentro de uma configuração de tornado, criou um bom visual, e então correu para a segunda máquina de Horvath que, na verdade, simula o fogo. ILM a chama de máquina “Verte”.

A máquina de Horvath calcula como as partículas devem se queimar, “Mas ela faz isso em duas fatias tridimensionais para que ele possa fazer simulações em alta resolução muito rapidamente”, diz Alexander. O volume do fogo em 3D é “cortado”, como um pão, enfocando as dimensões X e Y, mas não o eixo Z. “Você pode conseguir um detalhe muito bonito nas bordas do fogo e obter velocidade com isso, pois você não está preocupado com profundidade”.

Uma vez que o fogo está se movendo em si, as partículas se deslocam de fatia em fatia em 3D. “Se você olhar para um fogo, é realmente difícil dizer como é profundo. Ao empilhar um monte de fatias juntas, você ainda terá dimensionalidade, mas, se você está dando seu tempo e energia para o espaço de tela, onde você precisa disso, você quer ver as bordas das chamas.”

“Chris escreveu toda a máquina sobre a placa de vídeo ‘Nvidia’, por isso a aceleração por hardware” diz Alexander. “A rapidez destas coisas é enorme. Uma vez que você tenha a sua simulação de contagem baixa de partículas, depois você abastece o Verte com ela, que está no GPU [Unidade de Processamento Gráfico]. Em alguns dias, nós pudemos olhar para duas ou três tomadas de fogo, então nós ficamos mais próximo com isso. O mecanismo é mais flexível porque tudo o que ele deve saber é onde você quer que ele queime então nós podemos fazer todo tipo de combinações com isso. Criamos um furacão de chamas, mas também poderíamos fazer bolas de fogo na sequência submarina – é feito com a mesma máquina.”

Papel Duplo

Robert Weaver é um veterano de TD da ILM e também é supervisor de sequência que foi promovido recentemente a supervisor associado de efeitos visuais. Esse cargo é perfeito para Weaver pois agora ele pode fundir sua aptidão em direção técnica e fluxo do trabalho com a sua experiência em ajudar a conseguir o “visual certo” para a sequência. Ele trabalhou em Cortina de Fogo (1991), onde os incêndios ameaçadores nas casas eram retratados quase como personagens sencientes. Weaver também trabalhou com Alexander em Mar em Fúria (2000), onde a ILM aperfeiçoou a arte de respirar a vida, e emoções, em ondas enormes que só existiam no computador – trabalho que rendou um prêmio BAFTA de melhor efeito visual.

No novo Potter, Weaver trabalho como supervisor associado de efeitos visuais e supervisor de produção digital – o primeiro inclui envolvimento em estética, decisões criativas e dando um parecer direto aos atores e o segundo envolvia gerenciamento dos trabalhos técnicos.

“É um bom equilíbrio fazer ambos,” Weaver diz, ser capaz de “levar a visão do diretor e poder colocá-la no filme”. Esse é o terceiro filme Potter em que Weaver trabalhou com Alexander e Weaver estava confortável sobre falar as suas idéias e vice versa.

Apropriado o suficiente, Alexander o Weaver trabalharam em algumas cenas com simulação de fogo, em 2005, em Harry Potter e o Cálice de Fogo (o quarto filme da série foi indicado ao BAFTA). Mas, Weaver diz, “olhando para trás, era de certa forma bruto em comparação ao que podemos fazer agora”.

A equipe, naquela época, estava empurrando o simulador de fogo através da “máquina de fumaça” construída propositadamente pela ILM e “era uma batalha constante conseguir o aspecto correto do fogo.” A ILM aumentou aqueles efeitos de computação gráfica com cenas práticas de fogo no set.

Conseguir o visual de fogo realista em CG significa ser capaz de “coreografar uma força da natureza”, diz Weaver. “Na época de Mar em Fúria, nunca tinha sido feito água naquela escala com sucesso. O fogo é, para nós, a nova água. É tão difícil conseguir e eu acho que dessa vez, acertamos.”

Alexander e Weaver deram algum crédito do sucesso da nova máquina Verte aos novos super-rápidos cartões de vídeo da Nvidia – Horvath foi capaz de construir a máquina de fogo da ILM em um GPU ao invés de uma CPU. Weaver disse que fazer o efeito em GPU “nos deu uma incrível velocidade sobre o típico CPU. Nós construímos uma fazenda de GPU que podia lidar com essas grandes simulações. O que levaria um dia para fazer em um CPU, foi simulado em 40 minutos. O processador de gráficos é ideal para lidar com milhões de instruções em uma fração de segundo”.

Com a ajuda do supervisor de efeitos visuais de Yates no set, Tim Burke, o trabalho do ator Michael Gambon como Dumbledore – como um homem movendo dramaticamente uma varinha gigante com fogos de artifício no final – bem combinada com os efeitos de CG e não precisaram de um dublê digital.

Colaboração

HP6 foi produzido na Inglaterra e a maioria dos efeitos visuais do filme foi produzida em Londres em casas de efeitos, como MPC e Cinesite. A ILM não foi a empresa de efeitos visuais recordes em trabalho nesse filme (eles já fizeram cerca de 142 cenas com efeitos), mas sua peça-chave está no clímax pirotécnico do filme. A ILM literalmente espalhou-se pelo mundo, trabalhando em HP6 com o time de produção na Inglaterra e também com sua filial em Cingapura, que lidou com cerca de 15 a 20 cenas da seqüência da caverna.

Um desafio foi o horário diário de vídeo conferências com a matriz no Reino Unido e a ILM em Cingapura.

Os Inferi

Quando Harry e Dumbledore aterrissam na ilha subterrânea, eles vão atrás de um talismã (uma “Horcrux”) que representa uma parte da alma de Voldemort. Mas, uma vez que este MacGuffin¹ é ameaçado, um exército das vítimas de Voldemort volta à vida para defendê-lo. Chamados Inferi, essas pessoas são pouco compreensivas e foram duplamente vítimas – primeiro assassinadas pelo bruxo do mal, depois mantidos em um estado morto-vivo para realizar a tarefa. Yates enfatizou que os Inferi não se parecem com zumbis grotescos – preferivelmente, eles mostram-se muito magros e doentes e fazem Gollum parecer como se tivesse usado esteroides. Yates enfatizou que esta sequência não deveria dar a sensação de um filme de terror – ele queria que o público sentisse pena por essas pessoas definhadas, conectadas à água. “Nós realmente investigamos para não fazê-los parecer zumbis,” Alexander disse.

Para esses personagens, ILM precisou evitar Gollum e o seu tipo, incluindo zumbis recentes como aqueles encontrados em Eu Sou a Lenda. “Você extrai referências de todos aqueles filmes, e então todos estão conscientes do que está lá fora e o que você não quer fazer,” Alexander diz, “e tenta não fazer um tipo de imitação deles.”

Yates escalou poucos atores para expressar alguns dos movimentos dos Inferi – como eles dominando Harry e o arrastando para a água – e os animadores da ILM, então, fizeram os indivíduos morto-vivos se moverem de um modo muito metódico e arrepiante. Os atores lutam com Harry e o puxam, mas a ILM subsequentemente os tiraram e substituíram com Inferi em CG.

Marc Chu, supervisor/diretor de animação da ILM, queria adotar tanta animação quanto fosse possível – as sequências com até 100 Inferi são, na verdade, todas congeladas e controladas pelos animadores. “Uma vez que estamos embaixo da água e começamos a ver milhares deles, é quando fomos para uma abordagem do spray de partículas,” Alexander disse.

De fato, tudo em relação à sequência da caverna é CG – até mesmo o líquido misterioso que Dumbledore precisa beber para pegar a Horcrux.

Fluxo de trabalho

Para começar, o time de HP6 deu à ILM muitas telas verdes filmadas em um set muito limitado. A cena da caverna é feita de cristais – grandes cristais – que precisaram ser em CG. Com um set cristalino, “você tem que lidar muito com refração e reflexão,” Weaver diz. “Não é somente uma pintura fosca.”

A ILM teve que construir um ambiente inteiro em CG onde a câmera pudesse ir a qualquer lugar e ainda parecer que estava em uma caverna de cristal. Somente o cenário de fundo cristalino levou de sete a oito semanas. As superfícies de cristal refletem o fogo de Dumbledore assim como os personagens em ação, e a transparência permite que você veja de relance a ação através dos cristais.

“Tivemos fogo e água ao mesmo tempo,” Weaver diz, “e os dois interagindo. E tínhamos algumas bolhas de escape, com o fogo indo para baixo da água.”

Representar os milhares de Inferi embaixo da água envolveu mapeamento-normal: aplicando um ciclo de animação do figurino do personagem, planamente iluminado, em uma placa como um parte independente. “Quando entramos na água, com milhares dessas criaturas,” Weaver diz, “o mapeamento-normal nos permitiu reacender os Inferi. Isso foi um modo inovador de lidar com uma multidão subterrânea que nós nunca havíamos feito antes, e funcionou incrivelmente bem.”

Água

A ILM também criou a água para a sequência, conforme Dumbledore chicoteia seu fogo rodando em volta da ilha em um vórtice, o fogo também chicoteia a superfície da água. “O lago começa a ferver,” Weaver diz. “Tivemos de criar a aparência da água fervendo e os Inferi seriam refratados através das bolhas. O fogo também penetra através da superfície da água, gerando muitas bolhas.”

Raytracing² é muito caro,” Weaver diz, “e você tem de ser realmente esperto sobre como e quando fazer isso para não perder dias trabalhando em uma sequência de dois segundos.”

HP6 foi “uma exibição aquática muito difícil” para a ILM. Embora o total de sequências da ILM esteja na margem baixa, em torno de 142, com uma equipe de aproximadamente 80, “nós, na verdade, fizemos mais esforços em Harry Potter do que fizemos no passado em qualquer outro projeto,” Alexander diz. E Alexander, assim como Weaver, trabalhou em Mar em Fúria, que, ele diz, “foi um dos trabalhos mais difíceis em que já estive.”

A aparência dos efeitos da água e fogo de hoje da ILM é mais realista do que antes, mas, Alexander diz, “eu não acho que seja mais fácil. Continuamos deixando as coisas mais difíceis para nós porque queremos alcançar mais níveis de realismo e mais detalhes.”

“Estávamos todos muito animados, não apenas com os resultados, mas com o processo,” Weaver diz. “É um desafio enorme.”

A equipe havia planejado a filmagem de ao menos algumas pirotecnias práticas para a conflagração de Dumbledore, mas acharam que não era necessário. “Nós dominamos o fogo. Isso se tornou uma ferramenta criativa,” disse Weaver.

A ILM espera ver novos clientes cujos filmes necessitem de fogo que possa ser coreografado. Talvez uma Cortina de Fogo 2?

NOTAS DO TRADUTOR:

¹MacGuffin é um termo usado comumente em filmes que indica um elemento de suspense que faz com que os personagens avancem, mas que não tem relevância na trama em si.

²Raytracing é uma técnica de geração de imagem traçando a rota de luz através de pixels em uma imagem plana.