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A vida e as mentiras de Alvo Dumbledore

Nossa colunista, Camila Galvez, continua nossa área de Colunas com a análise de um tema polêmico recém divulgado por J.K.Rowling: a sexualidade de Alvo Dumbledore. Ao mesmo tempo, levanta a bandeira branca para a discussão saudável em torno dele.

Se você ainda não leu Harry Potter and the Deathly Hallows e não quer saber de spoilers, não aconselhamos a leitura.

Você pode conferir a coluna completa aqui.

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A vida e as mentiras de Alvo Dumbledore

Por Camila Galvez

É evidente que o livro que dá nome a essa coluna, escrito pela repórter sensacionalista Rita Skeeter, não é lá uma fonte muito confiável em relação à vida de um dos maiores e mais poderosos bruxos da saga escrita por J.K. Rowling. Porém, é inegável que contém fatos um tanto quanto inquietantes em relação à vida de Dumbledore, comprovados depois por ele próprio no capítulo em que conversa com um Harry nem vivo nem morto, em algum lugar que se parece com a estação de Kings Cross.

Um desses fatos martelou constantemente na minha cabeça após a leitura de Harry Potter and the Deathly Hallows: o estranho relacionamento cultivado por Dumbledore com um dos maiores bruxos das trevas de sua época, aquele que pode ser encarado praticamente como o antecessor de Voldemort: Gellert Grindelwald.

Grindelwald era sobrinho de Bathilda Baghsot, famosa historiadora bruxa que vivia em Godric’s Hollow. Os Dumbledore se mudaram para o povoado após a prisão do pai em Azkaban, acusado de assassinar um grupo de trouxas que atacou a caçula da família, Ariana. Por conta da agressão sofrida, a jovem ficaria para sempre com o equilíbrio emocional abalado, e teria constantes crises de violência nas quais não era capaz de medir a força de sua magia. Nesta casa, a mãe de Dumbledore, Kendra, morreria durante uma crise de Ariana. Então, o jovem Dumbledore, recém-formado em Hogwarts, viu-se como o arrimo da família, aquele que, como filho mais velho, deveria tomar conta de Aberforth e Ariana.

Num momento em que estava absolutamente frustrado com seu destino e sentindo que desperdiçava todo o seu potencial de ser grande e reconhecido no mundo bruxo, Dumbledore encontrou aquele que carregava dentro de si as mesmas ambições que ele. Tudo em nome daquilo que ambos chamavam de Bem Maior.

“Grindelwald. Você não pode imaginar como as idéias dele me pegaram Harry, inflamaram-me. Trouxas forçados à subserviência. Nós, os bruxos, triunfaríamos. Grindelwald e eu, os jovens e gloriosos líderes da revolução.”
(DH, pg. 573 – edição britânica)

Mais tarde, e já cego de ambição, Dumbledore cometeu um erro que se tornaria um dos maiores arrependimentos de sua vida, algo que passaria a enxergar pelo resto de sua existência no espelho de Ojesed: durante um duelo entre ele e Grindelwald, Ariana foi atingida por um feitiço e morreu. O grande bruxo passou a se culpar pela perda da irmã, sem saber exatamente se fora ele ou Grindelwald quem a matara.

Motivado pelo desejo de vingança e pela ambição que o movia na busca pelas Relíquias da Morte, Dumbledore foi até o fim para encontrar e vencer Grindelwald, tornando-se assim o mestre da Varinha Anciã ao derrotá-lo em 1945. Posteriormente, com a Capa da Invisibilidade de James Potter, passada de geração em geração, Dumbledore quase se tornaria imortal. Faltava apenas a Pedra da Ressurreição, para ele a Relíquia mais importante, pois traria a possibilidade de ter sua família reunida novamente. Porém, ao encontrá-la, Dumbledore encontraria também a sua própria ruína, amaldiçoado pelo pedaço da alma de Voldemort que habitava o anel dos Gaunt no qual a Pedra estava depositada.

Está certo que Dumbledore se deixou seduzir pelas idéias de Grindelwald e pela busca das Relíquias capazes de torná-lo imortal. Para alguém jovem e cheio de ambição, alguém que não tinha quase nada a perder e queria provar que era capaz de ser grande e poderoso, a idéia pareceria realmente tentadora. Porém, para a minha mente de slasher inveterada, há muito mais coisas nas entrelinhas que não foram citadas pela nossa querida J.K.Rowling. Pelo menos até hoje.

A autora finalmente resolveu surpreender os fãs com uma notícia que ouso chamar de uma das melhores que já recebi em relação a Harry Potter. Durante uma de suas famosas leituras, realizada em Nova York, Rowling afirmou com todas as letras: Dumbledore era gay e apaixonado por Gellert Grindelwald. Ao observar a reação da platéia, que a aplaudiu de pé, apenas afirmou:

“Se eu soubesse que isso os deixaria tão felizes, teria contado anos antes”.

Não é preciso dizer que os slashers fãs de Harry Potter estão mais que felizes, jogando purpurina para todos os lados, assim como eu. Para quem não está acostumado ao mundo de fanfics e fóruns, slasher é um fã da saga de Harry Potter que incentiva e gosta de formar casais homossexuais entre as personagens. Há de tudo no slash, sendo que as uniões mais difundidas e famosas entre os escritores de fics são Draco/Harry e Remus/Sirius. Mas a perspectiva de ver um casal slash se tornar real nos livros era algo que nós, definitivamente, não esperávamos. Slashers de plantão agora andam por aí de peito aberto, vestindo as cores do arco-íris e gritando aos quatro ventos: SLASH é CANON.

Prova de que J.K. Rowling é uma pessoa livre de preconceitos, que não tem receio de que um de seus personagens mais brilhantes e inesquecíveis seja alguém que se relaciona com o mesmo sexo. É isso que nós, slashers, tentamos dizer – e somos, muitas vezes, incompreendidos -: que o mundo precisa entender e aceitar a opção sexual de cada um, pois ela é exatamente isso: uma opção pessoal e intransferível. Um homem não será menos valoroso ou inferior só porque escolheu se relacionar com outro homem, e o mesmo vale para uma mulher. Chegou a hora de provar ao mundo que a homossexualidade pode – e deve – ser de uma vez por todas aceita na sociedade. Afinal, se vivemos em um mundo democrático e livre, porque alguns insistem em carregar preconceitos tão antigos?

Portanto, para aqueles que ainda se julgam no direito de criticar os homossexuais, mirem-se no exemplo de um dos maiores bruxos de todos os tempos. Porque hoje eu vou usar vestes roxo-berrante e sair por aí com uma bandeira escrita “a capacidade de amar é o maior poder do mundo”, independente do sexo. Eu aconselho a seguir o exemplo. Pelo Bem Maior.

Camila Galvez é jornalista e autora de fanfics. E ama slash, se é que os leitores ainda não notaram!