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Conflito entre gerações

O mundo dos personagens de Harry Potter é extremamente rico, bem como as relações que existem entre eles. Uma das mais interessantes, apontada por Yuri Rigon neste ensaio é o conflito de gerações entre os alunos de Hogwarts e seus professores.

Nosso colunista mostra como Rowling contraria a falácia de que os jovens de hoje são irresponsáveis e desrespeitosos, através de suas demonstrações de coragem, determinação e liderança. Dê uma olhada, ou melhor, uma lida e deixe seu comentário!


Por Yuri Rigon

Não é de hoje (e isso pode ser comprovado facilmente) que o conflito entre gerações vem ocorrendo. Adultos e jovens sempre tiveram opinões um tanto contrastantes: os jovens, que acham os adultos caretas e estes, tendo os jovens como rebeldes sem nenhum tipo de respeito. Isso é visto, por exemplo, na relação entre Dumbledore e certos alunos de Hogwarts, que o consideram louco. Permita-me, caro leitor, que eu mostre o quanto isso é antigo e até onde isso é verdade. Leiam, atentamente, os trechos abaixo:

“A nossa juventude adora o luxo, é mal-educada, despreza a autoridade e não tem o menor respeito pelos mais velhos. Os nossos filhos hoje são verdadeiros tiranos. Eles não se levantam quando uma pessoa idosa entra, respondem aos pais e são simplesmente maus.”

“Não tenho mais nenhuma esperança no futuro do nosso país se a juventude de hoje tomar o poder amanhã, porque esta juventude é insuportável, desenfreada, simplesmente horrível.”

“O nosso mundo atingiu o seu ponto crítico. Os filhos não ouvem mais os pais. O fim do mundo não pode estar muito longe.”

“Esta juventude está estragada até ao fundo do coração. Os jovens são maus e preguiçosos. Eles nunca serão como a juventude de antigamente… A juventude de hoje não será capaz de manter a nossa cultura.”

Esses trechos poderiam, muito bem, fazer parte de uma notícia de um jornal de ontem, de um crime cometido por um jovem, o que daria margem para que toda juventude fosse, então, analisada e criticada. Porém, não é isso que acontece. Os trechos são originários, respectivamente, de: Sócrates (470 – 399 a.C) , Hesíodo (720 a.C), um sacerdote (2000 a.C) e de um vaso descoberto nas ruínas da Babilônia com mais de 4000 anos de existência.

Seria muito pertinente, no momento, esclarecer aonde quero chegar com isso. A magia de Rowling está em retratar esses conflitos entre as gerações e retomar o verdadeiro sentido da aprendizagem. Tendo por base os conflitos, podemos citar o exemplo de Filch e os alunos, Percy e seus pais, Gui e sua mãe, Dumbledore e Harry, Snape e Harry, entre outros. Gostaria de chamar atenção para esses dois últimos, um muito bem sucedido e outro, nem tanto. A relação entre Harry e Dumbledore não é nada mais que uma relação entre aprendiz e mestre. Ela só perdurou durante toda saga devido o respeito do aprendiz pelo mestre e vice-versa. Já no caso de Snape, considerando as aulas de Oclumência, não havia esse respeito, o que impossibilitou o resultado desejado.

Ainda tomando por base os trechos, vemos como os autores são desacreditados quanto a juventude, fato que é totalmente oposto no discurso de J.K. Nos seus livros, a autora mostra o quanto acredita no jovens e em sua condição de pensar, de agir de forma concisa, trazendo um resultado satisfatório. Esse fato, por sua vez, é reforçado com a criação da Armada de Dumbledore, liderada por Harry. Esse grupo aprende, não só magia, mas a crescerem juntos e superarem dificuldades.

Essa abordagem nos mostra o quão velha é a concepção de que jovens são considerados “atrasos” na sociedade. Cabe a você, agora, analisar e decidir se está do lado de Rowling ou dos antigos pensadores que são retomados em nossa sociedade moderna pelos adultos.

Fonte: Conferência do médico inglês Richard Gibson (www.peroladecultura.blogspot.com)

Yuri Rigon formou uma Armada de Dumbledore junto aos amigos.