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Onde está Harry Potter

Não são poucos os textos de fãs que indagam como seria Harry Potter caso fosse brasileiro. O que talvez ninguém tenha se dado conta é que talvez o nosso Harry já tenha existido e que, ainda mais, faça parte significativa da infância de grande parte de nós.

De forma bem humorada, Mariana Nascimento se despede de nossa equipe de colunistas com uma paródia, em que Harry encontra seu suposto sósia… Se você quiser saber quem é, acesse o texto na íntegra e prestigie, pela última vez, nossa cara colega de tantos textos.

Em nome de escritores e leitores, agradeço à Mariana por sua colaboração e dedicação a nossa seção de Colunas.



Enganado por uma chave de portal, Harry veio parar no Brasil e resolveu conhecer um pouco do lugar. Depois de vagar um pouco, avistou um castelo. Sua experiência dizia que castelos são legais, e ele resolveu investigar a habitação. Na entrada, um porteiro de lata pediu uma senha, que na verdade era uma resposta de charada. Após usar um artefato de tradução, Harry achou que o esquema de senhas de Hogwarts era mais eficiente. Nem Neville seria mantido fora daquele castelo, de tão fácil que pareceu a charada. Talvez o porteiro dali precisasse de um treinamento com a esfinge que Harry conhecera no Torneio Tribruxo.

Quando Harry adentrou o castelo, percebeu que ali estava acontecendo uma festa, pelo tanto de gente presente e pela animação.

− Olá! − disse alguém. Harry se virou e viu um menino meio estranho, que continuou: − Eu sou Nino! Bem vindo ao Castelo Rá-Tim-Bum! Quem é você?

− Harry Potter… − respondeu Harry.

− Hum, deixe-me ver se você está na lista de convidados − disse Nino, correndo os olhos por uma folha de papel.

− Raios e trovões! Nino, não seja mal educado! Ele é Harry Potter! E está mais do que convidado para a nossa festa!

− Obrigado, senhor…

− Vítor! Muito prazer! O que faz por essas bandas, Sr. Potter?

− Acho que peguei a chave de portal errada… Deve ter sido algum bruxo das trevas…

− Oh, entendo, entendo… Mas como você já está aqui, fique à vontade para aproveitar a festa de aniversário da Morgana! Agora, se me dá licença, preciso receber o convidado que acaba de chegar…

O sr. Vítor saiu e deixou Harry com Nino, que o olhava com curiosidade. Harry ficou um tanto sem jeito, mas tentou puxar conversa.

− Então… É a festa da Morgana…

− Ah, sim, minha tia! E aquele é meu tio também − respondeu Nino, apontando para o Sr. Vítor. − Eu moro com eles, sabia? − prosseguiu Nino, com uma piscadela para Harry.

− Eu também morava com meus tios − entendeu Harry.

− Eu sei! Hihi! Mas os meus tios são bruxos também, e bem mais legais que os seus, pelo que eu soube…

− Imagino que sim…

− Nooossa! − disse uma voz vinda da árvore que ficava no meio da sala. − O Harry Potter está aqui!

Harry viu uma cobra rosa e espantou-se. Desde a batalha final contra Voldemort, ele perdera a capacidade de falar com cobras.

− Harry, essa é a Celeste! – apresentou Nino.

− Você é ofidioglota? − perguntou Harry a Nino, esquecendo-se de cumprimentar Celeste, que pareceu ofendida.

− O quê? − disse Nino, meio confuso.

− Você consegue falar com cobras? − esclareceu Harry.

− Aaah, todos aqui conseguem falar com a Celeste!

Harry achou isso muito interessante. Talvez Celeste fosse uma cobra encantada. Depois ele teria de consultar Hermione para entender melhor.

Nino ofereceu a Harry coxinha e guaraná. Enquanto Harry se servia, reparou no cabelo de Nino. Pelo jeito, o bruxo brasileiro havia conseguido domar todo o cabelo, exceto aqueles fios do topo. Harry estava prestes a perguntar qual era a técnica quando sua atenção se desviou para dois gatos que, de costas, lembravam Bichento, pois eram alaranjados.

Nino seguiu o olhar de Harry e explicou:

− Aqueles são o Gato Pintado e o Garfield.

− Parece que o Garfield não está muito interessado na conversa do Gato Pintado − observou Harry.

− É uma pena, pois o Gato Pintado tem muita coisa a dizer sobre os livros da biblioteca onde mora…

Harry não pôde deixar de pensar que Bichento se sentiria seriamente ameaçado e enciumado caso Hermione conhecesse o Gato Pintado.

− Ah! − exclamou Nino − Olha o Visconde de Sabugosa ali! Ele sim vai gostar do Gato Pintado!

Nino foi até o Visconde de Sabugosa, e Harry se espantou ao perceber que o tal Visconde era uma espiga de milho transfigurada. A professora Minerva ficaria fascinada, ele supôs. Aproximando-se de onde estavam Nino, o Gato Pintado e o Visconde de Sabugosa (Garfield se retirara sem cerimônias para a cozinha), Harry ouviu o último dizer:

− Lá no Sítio do Pica-Pau Amarelo, já conhecemos muitos seres da mitologia, como o minotauro e o Hércules.

− Eu tenho muitos livros de mitologia na minha biblioteca. Acho que o senhor vai gostar dela − disse o Gato Pintado, e então, vendo Harry:

− Ah! Olá, Harry Potter! Você também aprecia mitologia?

− Bom, em Hogwarts eu conheci alguns centauros, uma fênix, um cão de três cabeças…

Enquanto os outros continuavam a conversa sobre mitologia, a atenção de Harry mais uma vez se desviou, agora para as duas criaturas baixinhas que conversavam ali perto. Lembrando-se de Dobby, Harry fitou as orelhas de uma delas, que era verde e invertia a ordem das frases. A outra criatura era pálida, magra, arisca, sombria. A lembrança de Dobby foi substituída pela de Monstro na cabeça de Harry.

− Você sabe por que esses dois falam desse jeito estranho? − perguntou um menino a Harry.

− Não sei… Os elfos domésticos também falam de um jeito diferente…

− Por quê? − perguntou o menino de novo.

− Zequinha, não importune os convidados! − disse uma menina de vestido colorido.

− Mas Biba, eu quero saber por que…

− Porque sim, Zequinha!

− Afinal, quem são eles? − Harry aproveitou para perguntar.

− São o Gollum e o Mestre Yoda. Tomara que o Yoda consiga colocar alguma coisa na cabeça do Gollum, que só sabe pensar naquele anel…
− disse Biba.

De repente, a garota pareceu muito impressionada. Ela olhava para um homem muito forte, vestido de azul, com um S no peito e uma capa vermelha.

− Uau, é o Super-Homem! Ele voa e tudo… − suspirou Biba.

− É mesmo? − disse uma voz muito familiar. − Qual vassoura vocês usam por aqui?

Harry se virou e deu de cara com Rony. Parecia que ele acabara de chegar, pois a porta do castelo ainda estava se fechando.

−Vassoura? − disse Biba, ainda observando o Super-Homem.

− Sim, para voar…

− Eu não voo, mas o Super-Homem voa, porque ele é um super-herói…
E, hã, acho que ele não precisa de vassoura…

− Mas a capa deve melhorar a aerodinâmica − acrescentou um menino de óculos e cartola. − O Batman voa e também tem capa. Não deve ser à toa.

− O Batman é outro super-herói − Harry disse para Rony.

− Humm… Entendi… Mas espera! Você também voa e tem uma capa, e mesmo assim é só um herói, não tem nada de “super”…

− Como você chegou aqui? − quis saber Harry, mudando de assunto.

− Você acha que só você tem o direito de aproveitar uma boca livre? − disse Rony, já atacando as coxinhas. − Eu fui incumbido de encontrar você, com o meu apagueiro. O pessoal lá no ministério já estava preocupado com a sua demora.

− Então é melhor a gente aparatar logo…

Harry agradeceu a Nino e seu tio pela hospitalidade, recusou educadamente o convite para esperar o bolo de aniversário (embora Rony estivesse propenso a aceitá-lo) e, depois de passar ao Sr. Vítor o contato do Departamento de Cooperação Internacional em Magia, aparatou com Rony de volta para Londres.

Mariana Nascimento dá um aceno e aparata (aliás, um dia atrasada para o início do semestre em Hogwarts).