Filmes e peças ︎◆ O Enigma do Príncipe

Roteiro EdP Parte 4: Tradução das cenas 37 ~ 48

Neste sábado, trazemos a vocês algumas novidades na quarta edição do nosso períodico que visa divulgar todo fim de semana 12 cenas traduzidas do roteiro oficial da película Harry Potter e o Enigma do Príncipe, divulgado originalmente pela distribuidora Warner Brothers.As cenas de hoje começam com a Luna encontrando o Harry com o corpo preso no Expresso de Hogwarts. Ao caminharem para o castelo, encontram Draco discutindo com Filch sobre a bengala que o aluno levou, e se segue um novo diálogo, quando descobrimos que na verdade a bengala é de Lúcio Malfoy.

Após ter seu nariz consertado por Luna, Harry vai para a mesa da Grifinória, onde Rony conta o discurso do Chapéu Seletor. Na próxima cena, os dois são repreendidos por McGonagall e vão ter aulas com Slughorn, onde há uma nova fala do professor comentando sobre Hermione, e logo temos o Harry recebendo o frasco com a poção de Felix Felicis por seu bom desempenho.

Em seguida, Harry vai ao escritório de Dumbledore para ver a memória do diretor do dia em que conheceu Tom Riddle. Aqui, temos um diálogo bem maior e mais parecido com o que há no livro entre Dumbledore e a Sra. Cole. O diretor é levado, então, para o quarto de Tom…

A Sra. Cole sai, fechando a porta. Dumbledore analisa Riddle, então começa a andar pelo quarto. Colocados cuidadosamente sobre uma prateleira, estão alguns SOUVENIRS ESTRANHOS. Um grupo de SETE PEDRAS… um livro contendo SETE FÓSFOROS, SETE CHAVES DE LATÃO…

Segue-se, enfim, um diálogo bem mais completo entre o diretor e Tom Riddle, e também algumas descrições dos objetos em cena. A tradução de hoje termina logo depois que Tom revela ao Dumbledore a sua capacidade de falar com as cobras, e o diretor o deixa no orfanato, dando, assim, fim à memória em observação.

Vocês podem conferir a tradução de todas essas cenas em notícia completa – onde também encontram links pras traduções anteriores -, ou fazer o seu download em pdf clicando aqui!

HARRY POTTER E O ENIGMA DO PRÍNCIPE
Roteiro original ~ Cenas 37 à 48

Warner Brothers
05 de dezembro de 2009
Tradução: Juliana Poli Bonil
Revisão: Isadora Moraes

Roteiro EdP Parte 1: Tradução das cenas 01 ~ 12
Roteiro EdP Parte 2: Tradução das cenas 13 ~ 24
Roteiro EdP Parte 3: Tradução das cenas 25 ~ 36

37. INTERNA – EXPRESSO DE HOGWARTS – CORREDOR – NOITE

… PONTO DE VISTA DE UM ESTRANHO SE MOVENDO – METADE VERMELHO/METADE AZUL
Luna Lovegood perambula pelo corredor CANTAROLANDO, Espectros vermelhos e azuis balançando na ponta de seu nariz. À frente, as CORTINAS de uma cabine são fechadas. Luna pára de CANTAROLAR. Ela inclina sua cabeça, curiosa. Conforme faz isso, a LUZ de uma lanterna acima derruba as lentes de plástico baratas de seus óculos e, por um breve instante, uma NUVEM AGITADA aparece.

De pequenos insetos. Ou pó de fadas. Ou um truque de luz.

38. INTERNA – CABINE – MESMA HORA – NOITE

A SILHUETA de Luna CRESCE nas cortinas, então a porta se abre. Ela pega calmamente sua varinha e produz uma rajada de LUZ VERMELHA. A Capa de Invisibilidade desliza do corpo de Harry.

LUNA
Olá, Harry.

HARRY
Luna. Como você…?

LUNA
Zonzóbulos. Sua cabeça está cheia deles.

39. EXTERNA – CASTELO DE HOGWARTS – ESCADARIA FRONTAL – NOITE (MAIS TARDE)

O castelo brilha. Harry, com o rosto cheio de sangue, nariz ligeiramente torto, se aproxima com Luna.

HARRY
Me desculpe por te fazer
perder a carruagem, Luna.

LUNA
Tudo bem. Gostei do nosso passeio.
Foi como estar com um amigo.

HARRY
Eu sou seu amigo, Luna.

LUNA
Que gentil.

Nesse momento, o PROFESSOR FLITWICK vem correndo, segurando um rolo de PERGAMINHO contendo os nomes de todos os alunos.

FLITWICK
Já estava na hora. Procurei por vocês
em todos os lugares. Nomes.

HARRY
Professor Flitwick, o senhor
me conhece há cinco anos.

FLITWICK
Sem exceções, Potter.

LUNA
Quem são aquelas pessoas?

Harry se vira, vê Luna olhando a escuridão, onde SOMBRAS vagam sinistramente, como fantasmas.

FLITWICK
Aurores. Por segurança.

MALFOY (FORA DE CENA)
Isto não é um bastão, seu idiota.
É uma bengala.

Harry e Luna se viram. Draco está no meio de uma montanha de MALÕES e GAIOLAS DE CORUJA, olhando Filch passar um ENORME DETECTOR em uma BENGALA.

FILCH
E pra quê exatamente você
precisa de uma bengala?

SNAPE
Pertencia ao pai dele.

Snape se separa das sombras. Draco o olha com cautela, então arranca a bengala das mãos de Filch.

DRACO
Pertence ao meu pai. Ele não está morto.

Snape observa enquanto Draco embrulha cuidadosamente o bastão em um tecido e o coloca de volta em seu malão.

SNAPE
Não tem problema, Sr. Filch. Posso
responder pelo Sr. Malfoy.

Draco, novamente, olha para Snape com cautela. Então começa a sair devagar, vê Harry observando.

MALFOY
Belo rosto, Potter.

Harry coloca uma mão sobre seu nariz, observa Malfoy desaparecer na escuridão, seguido por Snape.

LUNA
Quer que eu o conserte?
Pessoalmente, eu acho que você parece
mais irresponsável assim, mas a decisão é sua.

HARRY
Você já consertou algum? Um nariz?

LUNA
Não, mas já consertei vários dedos do pé e,
afinal, qual é a diferença?

Isso não dá muita confiança a Harry.
No entanto…

HARRY
Que se dane. Pode tentar.

LUNA
Episkey.

Luna posiciona sua varinha sobre o nariz de Harry e… dá um tapinha. Ele VIBRA MUITO e depois ESTALA voltando ao lugar.

HARRY
Bem? Como estou?

LUNA
Excepcionalmente comum.

HARRY
Ótimo.

40. INTERNA – SALÃO PRINCIPAL – NOITE (MOMENTOS DEPOIS)

Hermione estica o pescoço, procurando por Harry, enquanto Rony se enche de pudim, RESMUNGANDO, BOCA CHEIA:

RONY
Não se preocupe. Logo ele che – –

HERMIONE
(batendo nele)
Quer. Parar. De. Comer! Seu melhor
amigo desapareceu!

RONY
Ei! Olhe pra trás, sua lunática!

Hermione se vira, vê Harry e Luna se aproximando. Sob a luz do salão, o rosto ensanguentado de Harry chama a atenção.

GINA
Ele está coberto de sangue de novo.
Por que ele está sempre coberto de sangue?

RONY
Parece que é dele mesmo desta vez.

HERMIONE
(assim que ele chega)
Onde você esteve Harry? E
o que aconteceu com seu rosto?

HARRY
Depois. O que eu perdi?

RONY
(balançando os ombros; ainda comendo)
O Chapéu Seletor nos disse para sermos
corajosos e fortes nessa época
difícil – é fácil pra ele falar –
ele é um chapéu, não é? Mas parece
que os primeiranistas gostaram.
Babacas. Filch te revistou lá fora?

Harry balança a cabeça. Com um guardanapo úmido, Gina começa a limpar o rosto dele, então de repente fica sem graça. Harry pega o guardanapo dela.

HARRY
Obrigado…

Nesse momento, a luz no Salão começa a diminuir aos poucos e todos olham para Dumbledore, de pé na parte mais alta do Salão, uma mão enegrecida apontando para o teto encantado, onde as nuvens respondem ao seu gesto e escondem uma reluzente lua cheia.

HERMIONE
O que aconteceu com a mão dele?

DUMBLEDORE
Muito boa noite para vocês!
Em primeiro lugar, por favor, dêem
as boas vindas ao mais novo membro
do nosso corpo docente,
professor Horácio Slughorn.

Sucedem-se APLAUSOS TÍMIDOS. Harry aplaude superficialmente, de olho na entrada do Salão conforme um par de Aurores se posiciona do lado de fora.

DUMBLEDORE
Estou feliz em dizer que o
professor Slughorn concordou em
retornar ao seu cargo de mestre de Poções.
Enquanto isso, o cargo de Defesa Contra as
Ates das Trevas será do professor Snape.

Isso resulta em um silêncio de estupefação. Dumbledore franze a testa, então tenta gerar algo APLAUDINDO um pouco. Alguns Sonserinos e alguns primeiranistas estúpidos se juntam a ele.

DUMBLEDORE
Agora, como sabem, todos vocês
foram revistados ao chegaram aqui
esta noite. Vocês têm direito de saber
o porquê.

DUMBLEDORE (CONTINUA)
(uma batida)
Certa vez houve um menino que,
como vocês, sentou-se neste mesmo Salão.
Andou pelos corredores deste castelo.
Dormiu sob este teto. Ele parecia,
aos olhos de todos, um aluno como
qualquer outro. Seu nome? Tom Riddle.

O Salão fica em silêncio total.

DUMBLEDORE
Hoje, é claro, o mundo o conhece
por outro nome. E é por esse
motivo que, enquanto estou aqui esta noite,
olhando para todos vocês, me lembro de
um fato grave. Todos os dias, a cada hora,
neste mesmo minuto talvez,
Forças das Trevas tentam penetrar
este castelo. Mas no final,
a maior arma deles continua sendo…
vocês.

Harry olha para Malfoy, de cabeça baixa, levitando preguiçosamente um garfo com sua varinha, como se Dumbledore não fosse digno de atenção.

DUMBLEDORE
Apenas para dar-lhes algo para pensar.
Agora, hora de ir pra cama. Pip pip!

RONY
(enquanto se levantam)
Isso foi animador.

41. INTERNA – CORREDOR – MANHÃ

UMA MULTIDÃO FERVILHANTE DE ALUNOS tenta encontrar suas salas no primeiro dia de aula. No meio deles, McGonagall se destaca, alta e séria. As gêmeas passam por ela, ambas com a mesma cara de preocupação.

PROFESSORA MCGONAGALL
História da magia é lá em cima,
senhoritas, não lá embaixo.
Sr. Davies – esse é o banheiro feminino…

O olhar de McGonagall muda de direção, encontra Harry e Rony sentados em uma saliência, claramente se divertindo muito com o caos.

PROFESSORA MCGONAGALL
Potter!

Harry pára de sorrir. McGonagall o chama com o dedo.

HARRY
Coisa boa não é.

Rony sorri enquanto Harry caminha “contra a corrente” em direção à McGonagall.

PROFESSORA MCGONAGALL
Se divertindo, não é?

HARRY
Bem, veja, eu tenho um horário
livre esta manhã, professora – –

PROFESSORA MCGONAGALL
Percebi. Achei que você gostaria
de preenchê-lo com Poções. Ou
sua ambição não é mais
ser um Auror?

HARRY
É. Ou era. Me disseram que eu precisava
tirar um Ótimo no meu N.O.M – –

PROFESSORA MCGONAGALL
E precisava, quando o professor
Snape ensinava Poções. Porém, o
professor Slughorn fica perfeitamente feliz
em aceitar alunos de N.I.E.M
com “Excede Expectativas”.

HARRY
Sério? Bem… Ótimo.
Vou direto pra lá.

PROFESSORA MCGONAGAL
Muito bom. E leve o Weasley com você.
Ele parece feliz demais ali.

42. INTERNA – CORREDOR/SALA DE AULA DE SLUGHORN – MANHÃ (MOMENTOS DEPOIS)

Rony segue Harry até uma porta aberta.

RONY
Mas eu não quero estudar Poções!

43. INTERNA – SALA DE AULA DE SLUGHORN – AÇÃO CONTÍNUA – MANHÃ

Quando Harry arrasta Rony para dentro, os outros alunos se viram ao mesmo tempo. Hermione faz cara feia. Lilá, ao ver Ron, sorri de alegria.

SLUGHORN
Harry, meu rapaz! Já estava
ficando preocupado! E vejo que
trouxe alguém com você…

RONY
Rony Weasley, senhor. Mas sou
péssimo em Poções, uma ameaça na verdade,
então é melhor eu ir embora – –

SLUGHORN
Que besteira, vamos dar um jeito em você,
os amigos de Harry são meus amigos.
Vamos lá, peguem seus livros – –

HARRY
É, desculpe professor, mas ainda não tenho livro – –
nem o Rony – – Sabe – – (até esta manhã…)

SLUGHORN
Não se preocupe. Pode pegar o
que precisa no armário.

Enquanto Harry e Rony vão ao armário, Slughorn retoma a aula, gesticulando para os caldeirões fervendo em sua frente.

SLUGHORN
Bem, como estava dizendo, preparei algumas
misturas esta manhã. Alguma idéia do que
sejam estas? Sim, senhorita…?

HERMIONE
Granger, senhor. Aquela ali é Veritaserum.
E aquela deve ser a Poção Polissuco. E aquela…

No armário, Harry e Rony encontram dois LIVROS – um novo, outro surrado e sujo. Ambos tentam pegar o novo quando uma caixa – – onde está escrito “BEZOARES ” – – cai. Quando Harry a segura, Rony pega livremente o livro novo e sai com um grande sorriso.

HERMIONE
…é Amortentia! A poção
de amor mais poderosa do mundo.
Dizem que ela tem um cheiro diferente
para cada pessoa, de acordo com o que as atrai.
Por exemplo, eu sinto cheiro de grama recém cortada
e pergaminho novo e pasta de dente de menta – –

Hermione fica vermelha e pára. Slughorn a observa.

SLUGHORN
Uma das minhas melhores amigas é trouxa.
E é a melhor da nossa sala…

Harry, se ajeitando em sua cadeira com seu livro sujo, olha para cima no momento em que Slughorn o olha pedindo confirmação. Quando Harry acena com a cabeça, Hermione olha para ele com curiosidade.

SLUGHORN
Bem, é claro que a Amortentia não
cria amor de verdade. Isso é impossível.
Mas ela causa, de fato, uma paixão
ou obsessão. Por esse motivo, ela é
provavelmente a poção mais
perigosa nesta sala.

Slughorn se vira, encontra um mar de rostos maravilhados pendendo na direção dos VAPORES.
Na mesma hora, ele JOGA uma coberta no caldeirão, fazendo-os voltar ao normal. Quando Rony pisca, ele encontra Lilá ainda olhando maravilhada – – para ele. Percebendo isso, Hermione faz cara feia.

CÁTIA BELL
Professor, o senhor não nos
disse o que há naquele.

SLUGHORN
Ah sim…

Slughorn vai até um PEQUENO CALDEIRÃO PRETO. Começa a colocar um pouco de LÍQUIDO DOURADO em um PEQUENO FRASCO.

SLUGHORN
O que vêem diante de vocês, senhoras e senhores,
é uma poção bem curiosa conhecida como
Felix Felicis. Mas é mais comumente chamada de – –

HERMIONE
Sorte líquida.

Um murmúrio percorre a sala. Até Malfoy se anima.

SLUGHORN
Sim, senhorita Granger. Extremamente
difícil de ser preparada. Desastrosa se você
errar algo. Mas, se feita corretamente,
como esta, tem poderes extraordinários.
Um gole e você verá todos os seus esforços serem
bem sucedidos…pelo menos até o efeito passar.

CÁTIA BELL
Mas então por que as
pessoas não a bebem o
tempo todo?

SLUGHORN
Porque se tomada em excesso
causa distração, imprudência e um perigoso
excesso de auto-confiança.

BLÁSIO
O senhor já a tomou, professor?

SLUGHORN
Duas vezes. Uma vez aos vinte e quatro anos.
Outra aos cinquenta e sete. Duas colherinhas no
café da manhã. Dois dias perfeitos…

Slughorn olha para o frasco, maravilhado, olhar perdido. Finalmente, ele pisca.

SLUGHORN
Então, é isto que eu ofereço a cada um
de vocês hoje. Um pequeno frasco de sorte líquida…
para o aluno que, nesta hora restante, consiga preparar
uma poção do Morto-Vivo aceitável, cuja receita pode
ser encontrada na página dez do livro de vocês.

A sala se anima. Slughorn sorri maliciosamente.

SLUGHORN
Saibam que durante todos os
anos que trabalhei em Hogwarts, nunca
um aluno fez uma poção com
qualidade suficiente para receber
o prêmio. De qualquer forma – – boa sorte.

Slughorn coloca o frasco sobre sua mesa, onde ele BRILHA com um RAIO DE LUZ SOLAR.
Harry abre seu livro. Franze a testa. As MARGENS da página diante dele estão pretas devido às pequenas ANOTAÇÕES de um antigo dono.

Os mesmos RABISCOS ESTRANHOS enchem também a próxima página e continuam por todo o livro. Balançando a cabeça, Harry segue com o dedo a primeira INSTRUÇÃO IMPRESSA.

“Corte uma vagem soporífera.”

Harry pega a ADAGA PRATEADA sobre sua mesa, coloca-a sobre a vagem quando… a vagem de Rony voa pela sala e bate na cabeça de Katie Bell. Harry analisa o resto da sala: todos estão lutando para cortar a resistente leguminosa. Ele olha de novo para seu livro, lê a instrução novamente.

Uma SETA foi desenhada a partir da palavra “corte” até a margem, onde foi escrita uma alteração, em um rabisco pequeno:

“Esmague com a lâmina – – libera melhor o suco.”

Harry olha a adaga em suas mãos, então coloca a parte plana da lâmina sobre a vagem e a pressiona. No mesmo instante, o pergaminho que protege a mesa fica VERMELHO com o suco.

HERMIONE
Como você fez isso?

HARRY
Não corte, amasse.

HERMIONE
Não, as instruções dizem
especificamente para cortar.

HARRY
Não. Sério – –

HERMIONE
Shh!

Harry balança os ombros, levanta o pergaminho e verte o suco em seu caldeirão. Este SIBILA, então fica LILÁS. Harry sorri. A CÂMERA COMEÇA A SE APROXIMAR VAGAROSAMENTE do frasco de Felix Felicis e…

MONTAGEM COMEÇA

Alunos se esforçam. Um caldeirão transborda. Lilá olha para Rony.

CÂMERA DESLIZA ATÉ O FRASCO. LUZ DO SOL MUDA DE POSIÇÃO.

Hermione fica cada vez mais frustrada. Seu cabelo vai ficando mais volumoso com o vapor subindo de seu caldeirão…

Harry segue com os dedos a instrução oficial… então muda para o rabisco emaranhado na margem…

Malfoy se corta, xinga…

CÂMERA DESLIZA PARA MAIS PERTO DO FRASCO. LUZ SOLAR MUDA NOVAMENTE.

Harry, extremamente calmo, adiciona um último ingrediente, dá um passo para trás, pronto…

Hermione, agora com o cabelo igual ao da Medusa, o olha com raiva…

A LUZ MUDA PELA ÚLTIMA VEZ. O FRASCO BRILHA COMO OURO.

FIM DA MONTAGEM.

OUTRO ÂNGULO

Slughorn caminha em meio aos caldeirões, balançando a cabeça demonstrando compaixão pelos fiascos que vê… Então, ele pára, olhando impressionado para o brilho perolado de uma poção borbulhante.

SLUGHORN
Pelas barbas de Merlin! Mas está perfeita.
Tão perfeita que me atrevo a dizer que um gole
mataria todos nós! Sua mãe tinha talento para poções,
mas isso… ai, ai, o que você não consegue fazer meu
rapaz? Talvez você realmente salve todos nós no final…

Todos olham para Harry. Ele perde um pouco seu sorriso.

SLUGHORN
Aqui está então, conforme
prometido. Uma garrafa de
Felix Felicis. Faça bom uso.

Vagarosamente, Harry estende a mão… pega o frasco brilhante.

44. EXTERNA – CASTELO – NOITE

O castelo está escuro, exceto por uma JANELA.

45. INTERNA – ESCRITÓRIO DE DUMBLEDORE – MESMA HORA – NOITE

Dumbledore está sentado em sua mesa sozinho, as linhas profundas de seu rosto iluminadas pela PENSEIRA brilhante. DOIS OBJETOS importantes estão diante dele. Um é um ANEL COM UMA PEDRA PRETA. O outro é o DIÁRIO DE TOM RIDDLE.

Ele equilibra o anel brevemente na ponta de um dedo enegrecido, então vira uma página do diário destruído. Seu semblante é de preocupação. Uma BATIDA. Ele pega o anel e o diário, os coloca dentro de uma gaveta. A porta se abre revelando Harry.

DUMBLEDORE
Boa noite, Harry. Vejo que
recebeu minha mensagem.
Venha, venha, sente-se.

Harry se aproxima, olha a Penseira com curiosidade. Senta-se.

DUMBLEDORE
Então. Como está?

HARRY
Bem, senhor.

DUMBLEDORE
Aproveitando as aulas? O professor
Slughorn, por exemplo, está
muito impressionado com você.

HARRY
Acho que ele superestima
minhas habilidades, senhor.

DUMBLEDORE
Você acha?

HARRY
Com certeza.

Dumbledore sorri afetuosamente, balança a cabeça.

DUMBLEDORE
E suas atividades fora da sala?
Te deixam feliz?

HARRY
Senhor?

DUMBLEDORE
Notei que passa muito tempo com a
Srta. Granger. Não posso deixar de me perguntar se – –

HARRY
Não! Quero dizer, ela é brilhante.
E somos amigos. Mas… não.

DUMBLEDORE
Perdoe-me, Harry, eu…

Dumbledore sorri ligeiramente, balança a cabeça.

DUMBLEDORE
…Estava apenas curioso.
(se levantando)
De qualquer modo, tenho certeza que está
se perguntando por que o chamei aqui esta
noite. A resposta está aqui.

Dumbledore abre um armário onde estão DÚZIAS e DÚZIAS de FRASCOS BRILHANDO como pequenos soldados brilhantes.

DUMBLEDORE
O que está vendo são lembranças.
Neste caso, dizem respeito a um indivíduo:
Voldemort. Ou como era conhecido então…
Tom Riddle.

Dumbledore procura e remove, com sua mão ferida, um FRASCO tampado, empoeirado e marcado pelo tempo.

DUMBLEDORE
Este frasco contém uma lembrança
muito especial – – do dia em que
o conheci. Gostaria que você
visse. Se você…

Dumbledore estende sua mão enegrecida e Harry se levanta, cautelosamente pega o frasco e tira a tampa. Ele derrama o conteúdo na Penseira. Dumbledore acena com a cabeça e Harry se aproxima em direção ao líquido iridescente, sua face atravessando a superfície…

46. FLASHBACK – EXTERNA – RUA (LONDRES) – DIA (ANOS ATRÁS)

Uma CARROÇA DE LEITE chacoalha por uma rua MOLHADA PELA CHUVA em Londres, e um DUMBLEDORE JOVEM aparece com um TERNO DE VELUDO COR DE AMEIXA. Nós o SEGUIMOS pela rua (e o vemos olhar agradecidamente para uma MOÇA BONITA) até ele chegar a um PRÉDIO SOMBRIO cercado por PORTÕES DE FERRO. Conforme Dumbledore os atravessa, CÂMERA SOBE:

O R F A N A T O W O O L

A IMAGEM TREME e nós – –

CORTAMOS PARA:

47. INTERNA – ORFANATO – CORREDOR – PENSEIRA – DIA

Uma mulher magra, de traços bem definidos, SRA. COLE, guia Dumbledore por um corredor sombrio. VOZES DE CRIANÇAS vêm de um QUINTAL que não vemos, jogando água e gritando, em meio a algum jogo.

SRA. COLE
Devo confessar que fiquei confusa ao receber
sua carta, Sr. Dumbledore. Durante todos esses
anos em que Tom esteve aqui, ele nunca recebeu a visita
de um parente. Francamente, fiquei surpresa
ao descobrir que alguém sabia da existência dele.

DUMBLEDORE
Eu não sou da família. Mas conheço
o nome dele desde que nasceu.

SRA. COLE
Entendo…

Mas, na verdade, ela não entende. Ela pára, franze a testa.

SRA. COLE
Acho que devo lhe contar. Ele é um
menino esquisito, o Tom. Estranho. Houve
incidentes com as outras crianças.Coisas
desagradáveis.

DUMBLEDORE
Talvez pudesse me dar um exemplo.

A Sra. Cole começa a falar, depois balança a cabeça, vai embora. Quando Dumbledore começa a segui-la, seus olhos recaem sobre uma FOTOGRAFIA EMOLDURADA na parede, velha e amarelada, mostrando a IMAGEM COSTEIRA de um AFLORAMENTO ROCHOSO PONTIAGUDO e uma CAVERNA. Quando ele sai, nós NOS DETEMOS na foto.

NOVO ÂNGULO – CORREDOR DO LADO DE FORA DO QUARTO DE TOM RIDDLE

A mão da Sra. Cole aparece. BATE NA PORTA. Ela gira a MAÇANETA.

48. INTERNA – ORFANATO – QUARTO DE RIDDLE – PENSEIRA – DIA

Um pequeno quarto, triste e sombrio. TOM RIDDLE, 11 anos de idade, sentado sobre uma cama, mãos sobre o colo. As paredes SE MOVEM LENTAMENTE com o REFLEXO DA CHUVA que PINGA como óleo em uma janela encardida.

SRA. COLE
Você tem visita, Tom.

Dumbledore se aproxima, estende a mão.

DUMBLEDORE
Como vai, Tom?

Riddle olha Dumbledore brevemente, olha para o outro lado.

SRA. COLE
Bem, vou deixá-los sozinhos.

A Sra. Cole sai, fechando a porta. Dumbledore analisa Riddle, então começa a andar pelo quarto. Colocados cuidadosamente sobre uma prateleira, estão alguns SOUVENIRS ESTRANHOS. Um grupo de SETE PEDRAS… um livro contendo SETE FÓSFOROS, SETE CHAVES DE LATÃO…

Continuando, Dumbledore passa por um ARMÁRIO ALTO, passando os dedos por sua superfície como se o grão da madeira fosse Braile, como se de alguma forma pudesse “ver” o que está dentro dele.

Então Dumbledore pára. Um grupo de SETE DESENHOS ESCUROS está espalhado sobre uma pequena mesa. Um MENINO e uma MENINA, seus rostos em agonia. Uma CAVERNA banhada pelo mar. A mesma da fotografia. Dumbledore começa a estender a mão para pegar…

TOM RIDDLE
Não.

Dumbledore pára, se vira. Encontra Riddle com o olhar sobre ele.

DUMBLEDORE
Como quiser.

Riddle olha para o outro lado e Dumbledore, pela primeira vez, nota suas mãos. Elas estão estendidas, completamente paradas e ENTRELAÇADAS com uma TEIA DE SEDA, onde uma ARANHA tece para trás e para frente.

TOM RIDDLE
Você é o médico, não é?

DUMBLEDORE
Não, sou um professor.

TOM RIDDLE
Não acredito em você. Eu ouço a
Sra. Cole falar, ela e o resto dos
funcionários. Eles querem que eu
seja examinado. Acham que sou
diferente.

DUMBLEDORE
Talvez estejam certos.

TOM RIDDLE
Não sou louco.

DUMBLEDORE
Hogwarts não é um lugar para loucos.

Tom Riddle olha para cima, inclina um pouco a cabeça.

DUMBLEDORE
É uma escola. Uma escola de… magia.

Riddle continua olhando, mas não diz nada.

DUMBLEDORE
Você pode fazer coisas, não pode, Tom?
Coisas que as outras crianças não podem.

Riddle olha para Dumbledore intensamente, sem piscar.

TOM RIDDLE
Sim.

DUMBLEDORE
Conte-me algumas das coisas que você pode fazer, Tom.

TOM RIDDLE
(observando a aranha)
Posso fazer as coisas se mexerem – – sem
tocar nelas. Posso fazer com que os animais
façam o que quero sem treiná-los. Posso
fazer coisas ruins acontecerem com as pessoas
que são más comigo. Posso machucá-las… se eu quiser.

Dumbledore analisa Riddle, então o menino olha para cima.

TOM RIDLE
Quem é você?

DUMBLEDORE
Eu sou como você, Tom. Diferente.

Riddle fecha as mãos e a teia cai.

TOM RIDDLE
Prove.

Não é um pedido. Sem deixar de encará-lo, os olhos de Dumbledore estreitam-se um pouco e… o GUARDA-ROUPA COMEÇA A PEGAR FOGO. Riddle se vira.

Sorri devagar. Dumbledore o observa. Abruptamente, o guarda-roupa começa a BALANÇAR.
O sorriso de Riddle se esvai.

DUMBLEDORE
Acho que há algo tentando sair
do seu guarda-roupa, Tom. Abra-o. Abra-o.

Aterrorizado, Riddle vai até o guarda-roupa em chamas e abre a porta com força. Na prateleira mais alta, em cima das roupas surradas, uma PEQUENA CAIXA BALANÇA VIOLENTAMENTE.

DUMBLEDORE
Tire-a.

Quando os dedos de Riddle tocam a caixa, as chamas que engoliam o guarda-roupa desaparecem, mas a caixa continua BALANÇANDO – – o único som no quarto, agora silencioso.

DUMBLEDORE
Há algo nessa caixa que você
não deveria ter?

Riddle olha para Dumbledore com um pouco de medo agora. Ele vira o conteúdo da caixa sobre a cama: um IÔ-IÔ, um DEDAL prateado e uma GAITA enferrujada.

DUMBLEDORE
Para que você queria essas coisas, Tom?

TOM RIDDLE
(sem encará-lo)
Gosto de ter coisas que pertenceram
a outras pessoas. Faz com que me sinta… próximo delas.

Dumbledore estuda o perfil de Riddle, ponderando isso.

DUMBLEDORE
Roubos não são tolerados em Hogwarts. Lá, você
não aprenderá apenas a usar magia,
mas também a controlá-la. Entendeu?
(enquanto Riddle balança a cabeça)
Vou embora agora, Tom. Deixe sua janela
aberta esta noite. Uma coruja irá lhe trazer
uma mensagem. Leia-a com atenção.

Dumbledore começa a sair, quando:

TOM RIDDLE
Também posso falar com cobras.

Dumbledore pára e focamos NO seu rosto, ele está de costas para Riddle.

TOM RIDDLE
Elas me encontram. Sussurram coisas.
Isso é normal? Para alguém como eu?

DUMBLEDORE
É incomum. Mas não é desconhecido.

Dumbledore, então, sai, sem olhar para trás, deixando o Tom Riddle de 11 anos sozinho. A IMAGEM TREME e…