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Onde cabem três, cabem…?

O que, afinal de contas, é amizade? Analisando o conceito a partir da amizade do leitor com Ron, Hermione e Harry, Breno Alvarenga fala de como se sente a respeito do tema enquanto lembra a todos, de forma suave e talvez nostálgica, bons e maus momentos do nosso trio de ouro. Ou seria quarteto? Leia a coluna completa aqui e descubra! Não deixe de comentar e deixar sua opinião! É de grande importância para nós e para o autor.

Segundo o dicionário priberam, amizade significa: “boa relação; laço cordial entre duas ou mais entidades”. Pessoalmente, acho que um sentimento tão nobre e tão antigo quanto a história humana mereça um significado mais sentimentalista e não tão rígido. No entanto, confesso que dar significado a algo que não vemos, não ouvimos, não respiramos ou cheiramos é uma tarefa difícil. O sentimento da amizade talvez seja tão forte e belo que não queira se dar ao luxo de ser entendido e explicado. Mas então vocês devem se perguntar: “ele está dizendo que o significado de amizade está errado?”. De jeito nenhum. Apenas incompleto. Será que Hermione, Rony e Harry estiveram lado a lado durante todos esses anos porque possuíam uma boa relação? Ou porque havia entre eles apenas um laço cordial? Os fãs de Harry Potter hão de concordar que não.

Lembro-me ainda hoje de como a insegurança de Harry levou-o à descoberta da amizade de Rony, e de como a solidariedade de Hermione levou à amizade dela com os dois. A partir dali os três, juntos, enfrentaram trasgos, professores tiranos, artes das trevas, bruxos perigosos, dragões, torneios, chacotas, piadas, criaturas sombrias, lobisomens, cachorros, leis e regras, Voldemort, a morte e a solidão. Foram os frutos desta amizade que nos prenderam nessa maravilhosa literatura durante 10 anos e que prenderão muitos ainda por tempo indeterminado. É ainda bom ressaltar que todas estas aventuras vividas pelo trio foram, em sua maioria, conseqüências do passado de Harry e seria prudente que nos perguntássemos: por que Hermione e Rony estiveram todo esse tempo ao lado de Harry sacrificando suas vidas? Talvez seja aí onde os dicionários procurem o significado de amizade e que, desiludidos, reduzem-na a palavras frias. Talvez seja aí que esteja a resposta do que é amizade. A resposta que está no coração de todos nós, mas nunca em nossas línguas.

Acredito que finalmente compreendi este conceito quando parei de encarar o trio como um trio, mas como um quarteto. A partir do segundo livro passei a me colocar no livro e a, consequentemente, amar meus novos amigos. Lembro-me como chorei quando li que Hermione havia sido petrificada em “A Câmara Secreta”. Imaginá-la deitada, desesperada e ainda totalmente imóvel, quando tentava apenas ajudar seus amigos, era desolador. Era criança e o medo que senti de perder tão cedo uma amiga assim me assustou. Lembro-me ainda da raiva que senti de Sirius ao saber que ele havia entregado os pais de Harry à Voldemort e depois, a raiva por Rabicho. O desespero que vivenciei quando o trio se aventurou no Ministério ou ainda o medo, a inquietação e a insegurança que me acompanharam durante toda a leitura de “As Relíquias da Morte”. Era tanto a ser descoberto e tanto a ser enfrentado que meu coração pulava a cada instante que pensava que meus amigos estavam perto da morte, e eu, deitado, não podia fazer nada para ajudá-los, apenas continuar lendo e torcer para que nada tivesse acontecido.

Confesso: sentia inveja. Via-me como um deles, mas no fundo sabia que eles nem me conheciam, e muitos menos sabiam de tanto sofrimento e alegria que já havia passado por conta deles. Desejava profundamente que tivesse amigos assim, e talvez meu fascínio pelos livros não me deixasse ver que, na verdade, eu tinha sim amigos tão leais quanto eles. Hoje reconheço melhor estes amigos, mas ainda tenho guardada, como em uma caixa trancada à chave, a amizade pelo trio. Às vezes, sozinho, vou correndo abrir esta caixa e imaginar o que eles estão fazendo: “Será o que que a Hermione preparou de almoço hoje? Ou será que ela não cozinha?”. Ou ainda: “O que eles pensariam sobre o aquecimento global? Ou sobre a miséria na África”. “O que eles achariam deste acelerador de partículas? Seriam eles capazes de fazer algo contra ou a favor disso?”. “Que férias chatas… Será que Hermione, Rony e Harry viajaram?”. Assim, evito ao máximo imaginar que eles são apenas personagens de livros, e às vezes… Não! Não posso pensar nisso!

Afinal, quem sabe a amizade seja enfrentar criaturas e seres do mal simplesmente porque amamos e queremos ajudar alguém, mandar cartas nas férias de verão, quanto tudo parece perder o sentido, seja chorar porque uma pessoa abandonou a jornada, consertar o óculos de alguém, sentir ciúmes, dizer “não” aos pais? Quem sabe amizade seja enfrentar filas para comprar um livro ou ver um filme, pular na carteira do cinema quando começa “Edwiges’s Theme”, chorar porque um filme foi adiado por oito meses? Quem sabe amizade seja ser leal e companheiro? Ou talvez seja simplesmente ser amigo? Quem sabe amizade seja amizade e pronto, acabou? Não saberemos dizer.

O mundo se tornou cheio de informação e meios de entretenimento. Às vezes me perco por entre estes elementos e deixo um pouco de lado tudo o que o trio me ensinou. Isso sim não é amizade. Não posso deixar de lado pessoas que me ensinaram como ser maduro, corajoso e leal. Pessoas que, diferentemente dos dicionários, me ensinaram de forma prática o que é ser amigo. E a você, o que a amizade do trio ensinou? Breno Alvarenga é estudante e faz parte da equipe de colunistas do Potterish.

Breno Alvarenga é estudante e colunista do Potterish.