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O fim e os spoilers

Nossa colunista Ana Freitas continua nossa área de Crônicas e aborda um tema que foi assunto recorrente durante toda essa semana que antecede o lançamento do último livro: spoilers.

De acordo com a política anti-spoiler do Potterish, fique tranqüilo para ler o texto: não há nele nenhum spoiler, apenas a análise de como eles podem influenciar a leitura de Deathly Hallows, para o bem e para o mal.

Você pode conferir a coluna completa aqui.

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O fim e os spoilers

Por Ana Freitas

Quando a data de lançamento de Deathly Hallows foi divulgada, parecia uma eternidade: 21 de Julho de 2007. Olhando para trás, tenho certeza de que todos vão concordar que o tempo vôou. A semana final chegou. É isso, é o fim – fim da saga literária mais aclamada do nosso século (e do século passado, acho), é o fim da história dos personagens (ou não, mas de certa forma sim), é o fim das nossas expectativas. Aproveite esta semana, pois provavelmente é a última vez em que você irá sentir a ansiedade leve e gostosa de estar próximo de ler um novo livro do Harry Potter.

J.K. Rowling, a grande responsável por isso tudo, tem deixado bem claro que gostaria muito que ficássemos longe dos tais spoilers. Poderíamos dizer que ela está agindo sob um instinto de bondade, que a faz querer que todos desfrutem da magic midnight (como as editoras estão chamando o momento do lançamento) como ele deve ser feito. Mas eu não acredito nisso. Por mais que J.K. pareça ser uma pessoa realmente legal, acho que ela só disse isso porque não gostaria que boatos, falsos ou verdadeiros, se espalhassem. Percebam o marketing em torno desse livro; todos os anúncios de que as pessoas morreriam, que chegaram a se tornar verdade absoluta (nós, fãs, sabemos a quantidade de pessoas leigas que chegam em nós e dizem “mas eu li na revista x que o Harry vai morrer no último livro”); os esquemas de segurança e tudo mais.

Contudo, nem os milhões investidos na preservação de DH e nem os apelos de J.K. Rowling foram suficientes para impedir que um suposto livro chegasse à Internet uma semana antes do lançamento. Nada está a salvo da Internet.

Como fogo em pólvora, as fotos das 700 e tantas páginas da tal versão americana de Deathly Hallows se alastraram pela World Wide Web. Hoje é quinta-feira e, apesar dos esforços da Scholastic para achar os culpados e retirar os links do ar, sabemos que só não tem o livro hoje quem realmente não quis. Uma vez que algo atinge a Internet, é impossível efetivamente eliminá-la de lá outra vez. São as agruras da rede.

Na segunda-feira baixei o suposto epílogo de Harry Potter and the Deathly Hallows. Calma, pessoal – vocês sabem que é política do Potterish.com não divulgar spoilers, então é claro que não encontrarão nenhum nesse texto (não garanto os comentários, portanto os que não estiverem a fim de ter um prazer estragado, fujam deles).

Acontece que não resisti… eu li o epílogo. Não posso garantir que seja real – o que posso dizer é que realmente parece muito real. E eu gostei do que vi, mas me arrependi de ter lido o final antes de tudo. Não chegou a estragar a maior parte da diversão, mas sem dúvida uma pequena parcela do prazer de ler o livro se foi depois que eu corri o olho por aquelas linhas.

Uma pequena passada pelas comunidade do Harry Potter no Orkut me deu a dimensão da coisa: todo mundo já tinha lido e a maioria estava indignado. Garantiam que o livro era decepcionante e que esperavam que aquele fosse um epílogo falso, forjado. Em primeiro lugar, indignei-me levemente com a imaturidade de alguns – ler nove páginas de um livro não pode, em hipótese alguma, dar alguma idéia da qualidade dele. Logo em seguida, me dei conta da razão pela qual as pessoas reagiram assim: para boa parte delas, o final não foi… satisfatório. Digamos assim: o livro só é bom se acontecer o que eu quero que aconteça. É assim que algumas delas pensam.

Claro que não é crime não gostar de um epílogo, mas basear nele suas expectativas do livro inteiro é besteira! Não faz bem de maneira alguma. E é óbvio que muita gente não gostou e pronto. Ainda assim, mesmo se esse for o epílogo real, peço paciência – eu confio na J.K. E acho que vocês deveriam também. Leiamos o livro inteiro, sem pré-conceitos, e depois tiremos conclusões.

Resolvi ignorar por algum tempo as comunidades do Orkut, praticamente terra de ninguém. Recorri a um grupo especializado em spoilers confiáveis do DH e nele fiquei. Logo surgiram os tais scans do livro. Baixei e parecem bem reais, se querem saber.

Comecei a leitura bem devagar e cautelosamente. E me surpreendi com o que eu encontrei. Tudo o que posso dizer sem estragar nada: é fantástico, embora vários trechos sejam bem duvidosos – deixam a suspeita de que essa é uma versão falsa. Há outras evidências contra a veracidade do tal DH, ainda que também haja evidências a favor. Além disso, outros scans diferentes de páginas e do índice foram divulgados.

Parecem montagem, mas, sinceramente, não dá para saber. A conclusão: pode ser qualquer coisa. É provável que seja o real Deathly Hallows, mas os scans podem ser todos falsos e ninguém viu o livro real; pode ser parte falso, parte verdadeiro; por ter um estilo bem parecido com o da J.K., pode ser marketing viral, ou seja, editoras pagaram alguém para escrever algo parecido e jogaram na internet. Sim, é conspiratório, mas é possível – pensem na polêmica! Jornais divulgam no meio da semana o que acontece no final de DH, e no sábado o livro é outro, e tudo vira uma confusão.

Não parei de ler os scans, porque de qualquer forma a leitura é excelente, e se for fake, realmente é uma fanfic digna de cumprimentos. Na sexta-feira eu descubro a verdade e pronto – e para ser franca, vou ficar radiante se eu chegar sexta na Livraria Cultura e me deparar com outro livro, totalmente diferente. Mas a maneira como as pessoas reagiram ao epílogo, falso ou verdadeiro, me assustou. Comunidades estrangeiras já estavam organizando protestos para J.K. por não terem gostado do desfecho, entre outras coisas bizarras.

Não posso dizer tudo o que gostaria antes do lançamento, já que a minha argumentação provavelmente daria uma dica, mesmo que bem superficial, dos acontecimentos finais. Por isso, depois de sábado, volto com outra coluna. Mas a lição final é a seguinte: se não pode agüentar, fique longe dos spoilers. Por que ler se o final dá a possibilidade de você achá-lo ruim, e com isso, prejudicar então a leitura de todo o livro, mesmo que ele não seja de fato ruim? Por que chegar na livraria com o pé atrás, ler o livro inteiro achando que ele é uma bosta e estragar uma espera de 10 anos? Tenho certeza que todas essas pessoas que acharam o epílogo ruim vão ler o livro já com a pré-concepção de que ele é ruim, e isso provavelmente fará dele um livro ruim, mesmo que não seja.

Se você é uma pessoa mais relaxada, que acha que spoilers leves apimentam a curiosidade e não tem problemas em saber parte dos livros, então olhar alguns spoilers pode ser saudável. Ainda assim, não abuse. Ainda que você seja desencanado(a), nada como ter o livro na mão e lê-lo, da primeira a última página, saboreando e se surpreendendo com cada trecho.

Mas, o mais importante: não estrague a felicidade dos outros! Não conte spoilers a quem não quer sabe-los. Em 2005, eu não fazia parte do fandom na internet e fiz uma brincadeira que agora vejo que é bem sem-graça: contei aos meus amigos de sala quem morria em HBP. Nem sabia que o nome daquilo era spoiler, mas foi bem sacana – eu perguntei quem da sala lia Harry Potter e contei. Tudo bem que isso já era em dezembro, e caso eles fossem muito fãs já teriam lido a tradução pirata na Internet. Mas ainda assim foi cruel. E eu os conhecia, então menos mal. Mas imagine postar algo assim em um fórum ou no MSN – não tem graça nenhuma.

Aproveitem o fim-de-semana. Na semana que vem, termino a discussão, aí sim dando nome aos bois.

Ana Freitas é estudante de Jornalismo.