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Ron e Hermione: As Verdadeiras Entrelinhas

Nossa colunista, Isadora Cecatto, continua nossa área de Sátiras com um assunto que gera grandes discussões entre os fãs de Harry Potter, mesmo após o lançamento do último livro. A colunista descreve as entrelinhas da obra que demonstraram a evidência de que Rony e Hermione foram definitivamente feitos um para o outro, como prova o epilógo de Relíquias da Morte.

Você pode conferir a coluna completa aqui.

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Ron e Hermione: As Verdadeiras Entrelinhas

Por Isadora Cecatto

Sétimo livro sendo escrito, comunidades do Orkut como palco de discussões constantes a cerca dos possíveis finais, mundo dos shippers pegando foco como nunca. Esse era o cenário do universo potteriano até o dia vinte e um de julho, quando Harry Potter e as Relíquias da Morte teve seu tão esperado lançamento, dando fim às especulações e deixando insatisfeitos muitos lados da Guerra dos Shippers.

Como todo pottermaníaco bem informado sabe, uma das maiores polêmicas que a saga Harry Potter gerou a cerca de sua trama foi a escolha dos casais feita por J.K. Rowling, a qual originou tanto revolta quanto satisfação. Os fãs se empenharam em imaginar todo tipo de romance, dos possíveis aos absurdamente inviáveis, se apoiando em “provas” e “evidências” dos mais variados gêneros. Embora existam muitos, essa coluna vai abordar um casal em especial e falar de uma evidência usada para defender vários: Ron e Hermione, ship concretizado no sétimo livro da série, e as entrelinhas, tão consideradas para validar casais não concretos.

Não é novidade que o final R/Hr e H/G de Harry Potter irritou os fanon shippers. Mas, e acredito que todos concordem, existe uma grande diferença entre ser apaixonado por um ship desejando que ele seja real, e acreditar cegamente que ele o seja, ignorando os fatos para dar atenção à supostas entrelinhas. E qual é o limite que separa as verdadeiras realidades ocultas “entre as linhas” dos sete livros, da imaginação fértil de fãs inconformados?

É impossível falar de canon e entrelinhas sem se lembrar diretamente da polêmica Ron e Hermione X Harry e Hermione. Enquanto os segundos cobravam um beijo ou prova de amor, os primeiros pediam fatos. E o Epílogo de Relíquias da Morte, além de diversas outras passagens do último livro, foi a resposta que favoreceu apenas um dos lados: veio o beijo (muito mais do que isso, diga-se de passagem), e nenhum fato que provasse um amor secreto entre o herói Potter e sua melhor amiga. Mas, levando em conta a certeza iminente que alguns H/Hr demonstravam ter de que o casal era real e estaria no sétimo livro, onde está o erro desses shippers?

Não sou J.K. Rowling para afirmar categoricamente o que quer que seja sobre isso, mas tenho uma opinião plausível com a qual é provável que muitos concordem. Para começar minha análise sobre o que eu chamo de as verdadeiras entrelinhas, levemos em conta os fatos:

1) Os livros se passam do ponto de vista de Harry. Desde o primeiro até o sétimo, o herói não demonstra nenhum interesse por Hermione que ultrapasse a amizade. Aliás, ele sequer chega a ter ciúme da garota com relação a outros garotos, o que é freqüente quando se está apaixonado.

2) Quando somos crianças, é comum que sintamos uma mistura de amor e ódio ao gostar de alguém, justamente por não compreendermos direito o que sentimos. Desde a primeira vez em que se encontraram, Ron e Hermione se estranharam, discutiram e demonstraram reações ciumentas um com o outro.

3) Hermione não se mostra irritada com o fato de Harry gostar e/ou estar com outras garotas. Pelo contrário, a amiga o ajuda com Cho e demonstra satisfação ao vê-lo com Ginny em O Enigma do Príncipe. Quando o assunto é Ron e Lavander, porém, Hermione se mostra chateada e ciumenta, chegando ao ponto de chorar e cortar relações com o amigo Weasley.

4) Os momentos de tensão entre Ron e Hermione acontecem da primeira página de A Pedra Filosofal à última de Relíquias da Morte. Em acontecimentos simples como um beijo no rosto antes de um jogo de quadribol, um “Eu te amo, Hermione” por conta de um favor no dever de casa e outros vários que, inclusive, ganham comunidades no Orkut, os dois reagem corando, ficando sem jeito. Não se poderia chamar isso de entrelinhas?

5) J.K. Rowling já mostrou que escreve seus livros de acordo com aquilo que planejou desde o início, não se deixando influenciar em escolhas importantes. Se a autora dos livros desenvolveu um casal desde o princípio, declarando no meio do caminho que ele é, sim, um casal da trama, qual a razão de abrir possibilidade para que exista um outro que desmonta o primeiro?

6) A reação de desespero que Hermione demonstrou após a partida de Ron no sétimo livro e a raiva que a sucedeu, em seu retorno, são claramente sentimentos intensos e cheios de significado. A garota se viu sem chão sem a presença dele, e quando encarou Ron novamente depois de tantos dias, ficou dividida entre o alívio de vê-lo bem, ao seu lado de novo, e descontar a ira que sua partida gerou. Vemos uma grande diferença dessa cena para as passagens onde Harry está em situação de perigo e/ou ausência. Com relação ao herói Potter, sua melhor amiga reage como uma mãe ou irmã reagiria em situação parecida: apenas o alívio e o carinho familiar se encontram presentes.

Diante de questões como as acima citadas, penso que o espaço para casais alternativos que existam apenas nas entrelinhas se torne limitado, o que faz com que seja desnecessária a existência do mesmo na trama em si. Ampliando o conceito da palavra, já que muitos defendem que J.K. Rowling, ao pedir que “lêssemos nas entrelinhas” em uma entrevista antiga, se referia a um casal oculto como Harry e Hermione, posso ousar afirmar que ela estava, na verdade, falando de Ron e Hermione, que embora sem beijos e declarações explícitas, demonstravam seus sentimentos com rubores faciais em horas oportunas e ataques de ciúme a torto e direito, os quais podem, juntos, formar o conceito perfeito de um único fato oculto – mesmo que não por completo. Seriam as evidências R/Hr, então, as verdadeiras entrelinhas.

Como eu sempre reforço, é normal e até mesmo saudável que existam pessoas contrárias aos casais canon de qualquer boa obra e que estas defendam fanons. O inaceitável, porém, é quando fãs de um ship que não se mostra concreto nos livros querem acreditar que ele é real e convencer os outros disso, não aceitando nem mesmo as mais irrefutáveis provas. Quando Jo Rowling declarou, por exemplo, que “quem ainda acredita em Harry e Hermione tem que voltar e reler”, houve centenas de H/Hr ignorando a declaração, bem como ignoraram a famosa “o mistério acabou, é isso. Sabemos agora que é Ron e Hermione”. E são a esses que eu chamo de iludidos, e não àqueles que têm um gosto diferente do que é mostrado na saga. Discordar é natural. Não aceitar é teimosia sem sentido.

Os argumentos que usei até aqui não são, em sua maioria, inéditos. Os H/Hr shippers pelo mundo já devem ter ouvido, contestado, lido e relembrado diversos deles quando o sétimo livro ainda não havia sido publicado, o que não foi suficiente – ao menos no caso da maioria – para dar fim às esperanças de que seu casal pudesse ser real de algum jeito. Mas, para finalizar, é preciso levar em conta que Harry Potter e as Relíquias da Morte trouxe aos fãs, junto do eletrizando desfecho, a prova final de que nunca houve entrelinha alguma que tornasse possível Harry e Hermione como um casal: no capítulo dezenove – A corça prateada, na versão brasileira -, depois da perversa aparição dos fantasmagóricos Harry-Riddle e Hermione-Riddle, saídos de dentro do medalhão, Harry profere palavras que foram certamente a vitória definitiva do casal Ron e Hermione, tornando absoluta a certeza de que J.K. Rowling não pôs em parte alguma entrelinhas a favor do outro. Aí vai a transcrição:

– Depois que você foi embora – disse Harry baixinho, feliz que o rosto do amigo estivesse escondido -, ela chorou uma semana. Provavelmente mais, só que não queria que eu visse. Teve muitas noites em que nem nos falamos. Com a sua partida…

Não pôde terminar; somente agora com a volta de Rony é que compreendia inteiramente o quanto lhes custara a ausência do amigo.

– Ela é como uma irmã – continuou ele. – Eu a amo como uma irmã e acho que ela sente o mesmo com relação a mim. Sempre foi assim. Pensei que você soubesse.
Página 295, Harry Potter e as Relíquias da Morte, versão brasileira.

Levando em conta as palavras de Harry sobre sua relação com Hermione, não há margem para dúvidas: as sentenças “Eu a amo como uma irmã e acho que ela sente o mesmo com relação a mim” e “sempre foi assim” são a declaração direta de que ambos sempre encararam um ao outro como irmãos, alimentando um amor que nada tem a ver com a relação imaginada pelos defensores do casal H/Hr.

Por fim, concluo minha análise afirmando que, baseada nos argumentos que citei e na passagem que transcrevi, além das outras milhares espalhadas pelos sete livros, J.K. Rowling falava de Ron e Hermione quando pediu atenção às verdades ocultas dos livros. Não há e nem nunca houve entrelinhas que possibilitassem a existência do casal Harry e Hermione, bem como nunca foi intenção da autora que os dois formassem relação alguma além da de grandes amigos-irmãos. As evidências R/Hr, recentemente transformadas em fatos, foram e sempre serão para mim, portanto, as verdadeiras entrelinhas.

Aos H/Hr? Com todo respeito que me é peculiar, só posso dar o mesmo conselho que a própria J.K. Rowling usou ao falar a esse respeito: não deixem de voltar e reler.

Isadora Cecatto é estudante e escritora de fanfics.