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Michael Rosen esclarece declaração sobre Potter

No domingo nós informamos que Michael Rosen, o último vencedor do prêmio Children’s Laureate, havia declarado ao jornal “Sunday Times”, durante sua turnê pela Escócia para incentivar a leitura entre estudantes, que achava a série Potter entediante.Parece que Rosen foi apenas mais uma vítima da imprensa sensacionalista. O escritor publicou hoje em seu blog do jornal The Guardian uma nova declaração, na qual afirma que o repórter fez citações errôneas.

Pelo fim, ele me perguntou sobre Harry Potter, e eu falei sobre dois pontos principais: que eu, pessoalmente, como um leitor adulto, não li muito da série (dois livros e meio), e não fazia meu gosto como leitor adulto; que jovens leitores lendo por conta própria (exemplo crianças de sete anos de idade) acham Harry Potter um pouco difícil enquanto que acham Enid Blyton mais fácil.

Uma das razões para esse último ponto (sobre Blyton), eu especulei, foi que Blyton “segura as mãos do leitor” enquanto Harry Potter é algumas vezes ambíguo (nós encontramos alguma vez um bonzinho ou um malvado?) e alguns personagens são, claro, bem sinistros. Isso não foi dito de forma nenhuma como uma condenação aos livros, aos leitores dos livros, ou de fato ao fenômeno Potter. E estava, repito, meramente apontando que era uma leitura dificil para jovens leitores.

Eu em várias ocasiões defendi os livros Harry Potter de pessoas que alegavam que eles não eram literários o suficiente, ou que eles eram derivativos e assim por diante.

Confiram a tradução do texto na íntegra em notícia completa.

HARRY POTTER
O que eu realmente disse sobre Harry Potter

The Guardian ~ Michael Rosen
20 de maio de 2008
Tradução: Renata Grando

As citações errôneas diversamente noticiadas de ontem mostram novamente como a mídia negligencia as verdadeiras prioridades da sociedade quando se trata de leitura e literatura infantil.

Semana passada em Edimburgo, eu fui entrevistado por 45 minutos em um carro no George Square pelo Scottish Sunday Times sobre como fazer a literatura popular e interessante para crianças. Ele me perguntou sobre o tour que eu estava fazendo (3000 crianças em cinco dias) e por que ou como eu achava que isso era útil.

Pelo fim, ele me perguntou sobre Harry Potter, e eu falei sobre dois pontos principais: que eu, pessoalmente, como um leitor adulto, não li muito da série (dois livros e meio), e não fazia meu gosto como leitor adulto; que jovens leitores lendo por conta própria (exemplo crianças de sete anos de idade) acham Harry Potter um pouco difícil enquanto que acham Enid Blyton mais fácil.

De uma longa entrevista, tudo que ficou da minha contribuição foi uma série de citações erradas e extrapolações de que eu achava os livros Harry Potter “inapropriados” e “chatos”. Ontem, essa “notícia” parece ter se espalhado como fogo.

Uma das razões para esse último ponto (sobre Blyton), eu especulei, foi que Blyton “segura as mãos do leitor” enquanto Harry Potter é algumas vezes ambíguo (nós encontramos alguma vez um bonzinho ou um malvado?) e alguns personagens são, claro, bem sinistros. Isso não foi dito de forma nenhuma como uma condenação aos livros, aos leitores dos livros, ou de fato ao fenômeno Potter. E estava, repito, meramente apontando que era uma leitura dificil para jovens leitores.

Eu em várias ocasiões defendi os livros Harry Potter de pessoas que alegavam que eles não eram literários o suficiente, ou que eles eram derivativos e assim por diante. Eu argumentei que deve haver algo basicamente especial (quer dizer, independente da excessiva publicidade externa) que os fizeram tão “atraentes” para crianças e de fato alguns adultos. Eu especulei que isso era em partes porque HP em si é uma tropa messiânica.

Como leitores – crianças em particular, mas talvez o lado protetor de qualquer leitor – nós somos levados a nos importarmos com Harry mais subitamente do que com outros heróis e heroínas inocentes traçando seus caminhos pelos mundos da fantasia. Eu não acho que o suposto conservadorismo do ambiente de escola particular seja tão reacionário quanto alguns falaram porque o mundo das crianças é contrário a isso; há figuras de autoridade falhas e perigosas, então de algumas formas, há uma tendência suavemente subversiva aos livros (os que eu li!). Enquanto as crianças continuarem lendo, curtindo e falando sobre os livros (e esses livros não são cruéis ou fascistas na intenção), eu vou defender essa atividade. Mas é claro, não significa que eu vou ler cada um desses livros, eu mesmo, em meu tempo livre, como um leitor adulto, lendo por prazer! (Isso realmente precisava ser explicado ao jornalista do Sunday Times, ou ele acha que escritores infantis são crianças?)

Então, vamos deixar isso de lado por um momento e pensar sobre o que a imprensa acha que vai fazer em relação a livros infantis e seus leitores. Uma história foi criada que erroneamente me coloca em oposição à JK Rowling. Então, em vez de qualquer um me ligar para clarificar (meu número de telefone está livremente disponível na imprensa, assim como o do oficial de imprensa Laureateship), o Daily Mirror e alguns canais de rádio repetiram a história. É como se fosse bom demais para valer ser checado.

Eu tiro disso que qualquer coisa que sugira que JKR ou HP deva ser chutado de sua posição é sexy. E se vier de alguém com aparentemente conhecimento e autoridade (desculpe me inflar dessa forma, mas eu apenas quero reconhecer que a Laureateship tem um status, em vez de mim, pessoalmente), então a história se torna ainda mais sexy. Que vergonha. O mundo dos livros infantis está cheio de histórias maravilhosas de pessoas escrevendo em uma adversidade, de uma nova e excitante escrita experimental, de grande sucesso pós-HP, de novas editoras tentando coisas novas. Está também cheio de histórias de como as coisas poderiam ser melhoradas ou ajudadas por meio da televisão e do rádio, mudanças no currículo escolar e no serviço da biblioteca.

Há uma organização devotada a promover o amor a livros em escolas e casas chamada Family Reading Campaign. Talvez eu tenha perdido as histórias sobre essa maravilhosa iniciativa. Foi fundada pelo governo, mas o próprio governo parece um pouco tímido em promovê-la. Por que? Nós temos um National Year of Reading. Eu sei que o The Sun (sim, aquele Sun) colocou um bom esforço e dinheiro para promover a idéia de pais lendo para seus filhos, mas e outros jornais, TV e Rádio?

Há também uma grande história que nenhum dos meios de comunicação deveria ter levado adiante que é sobre literatura em si. É algo assim: a cultura popular britânica reconhece que a literatura é, ou deveria ser, uma importante parte da vida. De diversas formas, parece haver um consenso por aí de que é uma boa idéia que uma crescente cultura literária exista para provar nossos valores, investigar como nos sentimos, sugerir interessantes meios de se agir, colocar os usos da linguagem sob um microscópio, e assim por diante.

Se esse é o caso, então há uma questão a ser perguntada sobre que parte a educação tem na cultura literária? Eu diria que esse tipo de pergunta escorregou para fora da agenda até onde as escolas primárias estejam interessadas. Para colocar cruelmente, muitas escolas foram comprimidas a se preocuparem mais com a literariedade do que a literatura. Você pode ir a uma sala de sexta série e descobrir que nenhum livro completo está sendo lido. Em vez disso, a experiência de literatura da classe é leitura de folhas soltas, trechos de romances com um conjunto de questões embaixo. Você pode entrar em salas mais novas na escola e descobrir que ler em voz alta para crianças foi rebaixado a uma vez por semana. Há, em outras palavras, uma investigação que poderia ser feita do ponto de vista: “literatura é bom para nós, então o que a educação faz sobre isso?”